Franklin e a Frente
FRANKLIN E A FRENTE
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 18.02.2009)
Franklin Cascaes é o bruxo cativo da Ilha da Magia. Há quem torça o nariz para ele, um sujeito que saiu por aí catando histórias em toda a Ilha de Santa Catarina e cercanias açorianas, saiu pelos rincões nunca dantes ouvidos "roubando" histórias para colocá-las - aumentando-as, enfeitando-as, inventando-as, recriando-as - em textos e desenhos, em figuras de barro e presépios de vegetais nativos.
Franklin nos conta de bruxas, boitatás e assombrações do além (as assombrações do aquém ficam por conta da imprensa). Ele deu cara, forma, nome e letra de forma às lendas do povo ilhéu.
No ano passado ocorreu o centenário do seu nascimento. Saiu um livro de contos, "13 Cascaes", escrito por 13 autores locais, e fez-se algo mais.
Ele dá nome ao órgão da cultura do município, a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes. No dia 26 de janeiro, a Fundação recebeu um golpe (fora os golpes duríssimos que sofre sempre que seus dirigentes deixam de cumprir o dever, o que não é raro de acontecer): por projeto do prefeito aprovado pelos vereadores sem discussão e sem leitura, ela perdeu sua autonomia e foi subordinada ao Turismo juntamente com a fundação do Esporte: a surrada mania de pensar que as três atividades são a mesma coisa, coisa que o governo do Estado chama de "Lazer".
O pessoal da Cultura se rebelou. Através da Frente em Defesa da Cultura Catarinense o assunto se alastrou como fogo em rastilho de pólvora. Marcou-se reunião, surgiu um documento contundente pedindo não só a reconsideração da medida como a implantação do Conselho Municipal de Cultura e a criação do Fundo Municipal da Cultura.
Na sexta-feira, 13, o prefeito Dário Berger colheu aplausos e elogios na audiência solicitada pela Frente ao ter a grandeza de voltar atrás em uma decisão tomada, aprovada, sancionada e publicada: enviará nova mensagem à Câmara atendendo às ponderações da Frente.
E o que é essa tal de Frente?
Ela não é nada, ou melhor, nada mais do que um fórum virtual de debates abrigado na Internet. Não tem dono, chefe, presidente, cacique, diretoria. Não tem cor partidária nem candidato a cargos de confiança. Aberta a qualquer interessado, todo membro pode propor uma discussão ou levantar uma lebre.
Se o assunto for pertinente, ele prospera: a ponto de resgatar um pouco a dignidade de Franklin Cascaes, ao menos em sua "encarnação" de Fundação Cultural.
(Amilcar Neves é escritor e autor, entre outros, do livro "O Tempo de Eduardo Dias - Tragédia em 4 tempos", teatro, em coautoria com Francisco José Pereira, Editora Garapuvu, Florianópolis)