Biu, o dos olhos verdes.
Um casal já com a idade avançada, sem qualquer esperança de vir a ter um filho. O pai com 63 anos, ela com 58. Quando se sentiu mal, chegou a pensar que estava com qualquer tipo de doença, jamais passara pela sua cabeça que fosse receber o seguinte diagnóstico:
- O que a senhora tem não é nada. A senhora está grávida.
- Dr Erasmo, o senhor não está enganado?
O médico fechara a cara e respondeu mais do que depressa:
- A senhora quer saber mais do que eu? O médico aqui sou eu!!
- Não doutor, não se avexe, não.É que eu e meu esposo somos velhos e quando jovens procuramos vários médicos e ouvimos apenas uma frase: a senhora é estéril.
O doutor aliviou um pouco o semblante e lhe passou alguns exames, marcou uma nova consulta para o mês seguinte.
SUS é assim mesmo pensava ela, era melhor do que nada. O que iria dizer ao esposo quando chegasse em casa? E o que diriam os vizinhos quando lhe vissem de barrigão?
- Bem, vou viver um dia de cada vez. Falou com sabedoria.
Contou ao esposo. A alegria foi grande.
Os meses passaram. O filho nasceu.
Criaram aquele bebê como um príncipe. Tudo que lhes era possível lhe davam. Nada lhe era proibido.
Dizia a mamãe coruja. - Biu, é o menino mais bonzinho que conhecemos, não acha, meu velho?
Respondia o esposo:
- Acho, meu amor. Deus nos deu um grande presente e devemos zelar por isso.
Porém Biu cresceu sem limites, sem disciplina.
Quando começou na escolinha Biuzinho não sabia dividir brinquedos e espaço. Batia pra valer.Tomava os brinquedos dos coleguinhas. E quando repreendido pelas tias, mordia, chutava, gritava, esperneava.
Chegava em casa com uma história de cortar o coração dos velhos pais. As tias os advertiam. Eles acreditavam no filho e a reação era:
- Vamos tirar o Biuzinho.Essa escola não serve!
Biu cresceu mais ainda. Mudava de escola no mínimo duas vezes ao ano. Ia para a aula quando ¨estava disposto¨. Chegava em casa com objetos na bolsa. Mamãe e papai não achavam nada demais.
Virou homem. Tornou-se um ladrão fino. Bebia e batia em quem lhe passasse à frente. Se sentia o dono do pedaço.
Um dia o velho pai foi chamado às pressas, Biu estava fazendo baderna na feira. O velho foi falar com o filho e apanhou pra valer. Se a polícia não tivesse chegado, não sei o que Biu teria feito.
Conseguiu escapar. Mas não escapou de apanhar dos colegas de cachaça, dos colegas de maconha. Não escapou de apanhar feito bicho e aparecer boiando num rio depois de ter passado dias sumido.
Papai e mamãe não souberam cuidar do presente que receberam. Biu, que tinha os olhos verdes como os do pai, teve a vida ceifada na flor da idade.
Aprendi muitas coisas quando ouvi essa história. Não sei se estou conseguindo por em prática, porém reconheço que é verdadeira:
Nossos filhos precisam ser ensinados no caminho que devem andar. Devemos exercer o papel que nos cabe: o papel de guias. Disciplinar também é uma prova de amor.
Ione Sak