Christine, a imigrante
Conheci essa linda e teimosa mulher numa das minhas andanças. Eu estava esperando o resultado de um teste para um emprego numa grande empresa. Ela estava em fase de treinamento.
Descobrimos que morávamos no mesmo bairro e sua amizade contribuiu para facilitar o meu entrosamento na firma. Fui aprovada e passamos a trabalhar em turnos diferentes. Como ela não conseguiu mudar o horário, terminou pedindo as contas. Mas nos finais de semana fazíamos questão de estarmos em contato. Foi assim que descobri sua história.
Ela nasceu na Polônia, e em tempo de guerra seus pais decidiram fugir para um lugar onde pudessem sobreviver. Optaram pelo Brasil. Ela chegou bem pequenina.Não tinha lembrança da viagem, muito menos da sua terra natal. O que sabia era àquilo que seus irmãos mais velhos diziam. Seus pais eram cultos e procuraram dar a melhor educação para seus rebentos. Apesar das dificuldades, eles não abriam mão de três coisas: alimentação, saúde e educação.
Assim, todos os filhos falavam três idiomas, conheciam das belas artes, vestiam-se com esmero, viviam na alta roda. Estavam bem encaminhados, menos a Cris.
Essa rompeu o círculo. Trouxe vergonha e desilusão para a família. Fora deserdada.
Cris conhecera ainda na adolescência um brasileiro que além de pobre não tinha o menor desejo de estudar, trabalhar ou estar com pessoas do bem. Esse brasileiro ¨lhe fizera a cabeça¨ou melhor, ¨lhe virara a cabeça¨de tal maneira que a linda menina não pensou as conseqüências dos seus atos. Ela rompeu com a família, fugiu com o namorado e foi viver numa favela.
Ela sabia que seu namorado era usuário de droga, mas não que era traficante. A casa ruiu quando descobriu que o pai das suas duas filhas usava a própria casa como esconderijo das drogas que comprava e repassava para toda comunidade. Descobriu que as paredes não poderiam ser rebocadas porque os buracos lhes serviam para depósito de grandes quantidades de maldita.
A polícia vivia a procura do seu esposo, no que ela morria de medo que os homens o pegassem.
Cris se destacava pela cor. Sua pele muito branca, cabelos loiros claríssimos e olhos azuis. Vestia-se do que lhe dessem. Comia quando alguém se compadecia e lhe doava uma cesta básica. Isso acontecia quando ele estava escondido. Nesse período, passava meses sem notícia do marido.
Quando ela ia procurar emprego o que mais temia era que na empresa alguém descobrisse a sua história. Logo era demitida.
Quando conheci essa linda mulher, ela estava grávida de três meses. Por não poder esconder a gravidez preferiu usar como desculpa o horário que lhe impossibilitava de trabalhar. Quando lhe perguntei:
_E se você conseguisse a mudança de turno?
Ela baixou a cabeça e me respondeu com aquele voz tão meiga, de quem só vivia perdendo por causa da sua triste escolha:
_ Inventaria outra história e cairia fora.
Cris abriu mão de tanta coisa por causa de um amor. Mas esse homem não lhe correspondia como almejava. Ele só via a droga, a aventura, o dinheiro fácil, a falsa sensação de liberdade...
Tony era assim: um menino grande que entrou por um caminho atraente, mas que causou a ele mesmo, à sua amada, às suas filhas, à sua mãe, e a tantas outras vidas destruição.Apenas destruição.
Tony tombou sem conhecer seu filho que estava por nascer. Tony foi apenas mais um que se deixou levar pelo caminho mais fácil.Tony não aprendeu a viver