Quero relaxar naturalmente.
Comentando com um recantista sobre as mudanças que presenciamos hoje, resolvi repetir aqui alguns pensamentos:
Antigamente, bastava uma rede, uma boa conversa embaixo de uma árvore quase centenária, nossas crianças correndo, animais domésticos por todo lado, um tocador de viola e os que tinhas cãs brancas contando histórias...Que saudade!!!!
Não se tinha o conhecimento que se tem hoje, mas, ó santa ignorância! Câncer era aquela doença que ninguém dizia o nome. A maioria morria de velhice mesmo. Todos se conheciam e se ajudavam. Parecia que nas veias corria o mesmo sangue: o da irmandade.
Hoje estamos vendo uma multidão caminhando, e às vezes sem saber pra onde ir. São pessoas estressadas, alucinadas, dopadas, desmemoriadas, insensíveis, medíocres; andam às vezes sem enxergar, sem ouvir, sem deixar o coração falar.
Em tempos passados os velhos tinham o que falar e os moços tinham prazer em ouvir.Também os mais velhos sentiam orgulho do desabrochar da mocidade, e torciam pelo sucesso dos filhos, dos netos, bisnetos, tataranetos.
Droga? Quem conhecia essa maldita? E quem precisava usar esse artifício em vão. O relaxamento, o prazer, o deslumbramento vinham de um banho de cachoeira, de fazer caminhada nas matas, do embalar um bebê, do cuidar dum filhote que teimava em choramingar até dormir dentro do nosso sapato, de ouvir o cantar de um sabiá ou de um bem-te-vi, do tirar uma manga suculenta na velha e boa mangueira que há muito serve de balanço para os pimpolhos pequenos e os pimpolhos graúdos.
Prove da simplicidade de uma vida numa vila interiorana, do sentar num tamborete com um velho que sabe contar histórias dos tempos dos cangaceiros ou da época dos bondes, charretes e do andar a pé,léguas e léguas.Você nunca mais vai ser o mesmo. Há algo mágico, impossível até de descrever o contato com homens e mulheres de mãos e pés calejados. São vidas que não se consideram miseráveis nem tão pouco sofredores. Essas dádivas são verdadeiros tesouros que muitos não reconhecem o verdadeiro valor.
Conheço uma senhora que tem oitenta e sete anos. Anda mais de três quilômetros sem
reclamar, come de tudo, não sente uma dor de cabeça, dorme às 22 hs, visita todos os doentes da cidade, vai à feira toda semana, e se os filhos deixassem iria pra onde desse na telha. A velha é medonha. Ganha dos mais novos.
Perguntei um dia do segredo de tanto vigor, no que ela me respondeu no seu linguajar simples: nunca fumei, nunca bebi, nunca fugi du trabaio, minha rima. Desdi piquena qui trabaio, tratu de bichu e num tenhium medo de passar fomi, ispois que minha mãe me pôs nu mundu mi insinou a lutar.Casei cedu e meu veio, o Mané era um santu iomem qui cuidou de mim e dos fios qui Deus nus deu.
Continuei minha aprendizagem perguntando: Dona Neném, como era no seu tempo de menina?No que ela me respondeu:
Minha fia, no meu tempu as coisas era assim: menina aprendia desdi cedo a cuidá de casa, dus animás, dus irmão piquenu e si desse tempu também da roça. Num tinha esse negóciu de padaria, nem de mercadu, não. A genti comia era pão di milhu e feijão cum farinha da terra. Fazia roupa de sacu de farinha, auvejava nu sol, e a água era a di rio ou a du açudi e du barreiru.
Minina, num havia tantu ladrão comu tem hoji e os veios eram respeitadu. Hoji. Essa veia tem medu de tudu.
Baixei a cabeça, pensativa tive que reconhecer que dona Neném estava com a razão.
Hoje há muito desenvolvimento, descobertas, a ciência se multiplicando, os homens cada vez mais sábios, porém, ainda assim, gostaria que o velho estivesse aliado ao novo. Alguém um dia me falou: Não desprezemos o boi velho, pois ele ajudará o boi novo a traçar a trilha do arado.
Fora Diazepan, Ansitec, Lexotan, e todos os pans, tans e tecs. Ouçamos os mais velhos, eles têm algo a nos ensinar.