Divagando sobre autor, obra, cultura e sociedade

Lista linda, mais lenha na fogueira, rs. !...(Sim, essas letras foram escritas a título de comentário em uma lista literária e já não me lembro quando e onde.)

Se a pirueta pirueta mais que a pirueta, mutatis mutandis, mais que bala-doce, o elogio, a crítica, o olhar crítico e o juízo, mais que doce e bala, tudo questão de escala... isso quanto a Pavlov.

Na dialética do lindo-e-feio, a oscilação na auto-regulação, pulsante, e no Machado a autonomia e a independência autor/obra.

Potência e ato: a assincronia e a atemporalidade - quantos dos insights ainda não foram interpretados ou traduzidos de forma a externarem-se em comportamentos? Quantas das provocações não se converteram ainda em fatos, mas sim produziram alterações nos autores de ações, modificando ações deles, no advir? – arco retesado!

Talvez disso nos fale Tereza ao citar a auto-regulação na cultura: “Cultivar a liberdade de produção é, a meu ver, muitíssimo mais precioso, não apenas como realização pessoal, mas também como dinâmica cultural.“ Aqui sim, o elogio seria apenas um dos mecanismos de mudança cultural, acenando com a existência do meio não hostil. Mas não seria o único mecanismo, porque tal meio proveria outras formas de reconhecimento.

Que mundo louco não seria aquele, ou é, que só reconhece o valor da obra após a morte do autor.

Seria a negação do agente, a sociedade controlando a distribuição do poder e do prestígio que a obra dá ao autor – mas assimilando-a ou apropriando-se dela como patrimônio social a título de herança. “A vida não quer ver ninguém bem” da canção popular.

Ou seria uma forma de praticar a elevação e o enriquecimento do patrimônio cultural da humanidade através do lema: “a adversidade constrói”; Aumento o meu nível de exigência para a qualificação e espero que disso a qualidade da produção também se eleve, na tentativa de ultrapassar as barreiras que imponho.

Coisas que pensei, apenas isso e nada conclusivo.

Marco Bastos

E ainda, respondendo a um comentário quando divulguei o texto acima no Mural dos Escritores:

Obrigado, Eliane. De fato um tema em aberto e assim parece que sempre permanecerá. Gostei do seu ponto de vista, como compasso de espera, rs, o prazer-de-fazer-a-arte a mover o autor - talvez o único motivo que perdura, desde que ela venha de dentro-prá-fora (em última instância). Que "mecenas" seria capaz de guiar a mão de um Michelângelo se essa mão não encontrasse uma razão própria para mover-se? Nem a aristocracia ou o poder da igreja obteriam de Mozart, Strauss e de Bach as melodias para a corte ou para a missa se a música por si só não os apaixonasse. Ou não é nada disso! - se mudarmos a moeda-de-troca do "vil metal" por "moedas" tão ou mais fortes porque mais sutís e imponderáveis - a vaidade dos homens, a vontade de crescer e se distinguir, o sentimento de pertença, as ideologias, os amores, os ganhos de conceito, reconhecimento e recompensas. Tudo isso que a sociedade tão bem ou tão mal sabe "administrar" e de que sempre soube ao engajar a arte nos seus projetos de manutenção, de transformação ou de conquista. Essas coisas "nadam" no íntimo do artista e nas interrelações do homem social, como sociais são a sua "natureza" e os processos que elaboram o conhecimento - que orienta o pensamento - que dirige a atividade - que condiciona o pensamento - que elabora o conhecimento - que orienta o pensamento...ad infinitum como enuncia o Caio Prado Jr. e onde não há (?) um dentro-e-fora - pois a atividade condiciona o pensamento - pendulando entre o "homem é o homem e suas circunstâncias" (Ortega y Gasset) e o "verde-que-te-quero-verde" (Garcia Lorca).

São sim, de grande valor esses diálogos, e quanto à arte, o melhor mesmo é "ir-fazendo" conforme exista essa vontade.

abraços.

Marco Bastos.