Rua: Joaquim Oliveira

A vida é tranquila nesta cidadezinha de quase 350.000 habitantes, mais tranquila ainda é a rua onde eu moro. As casinhas geminadas, estilo casa de boneca, bem semelhantes aos subúrbios norte-americanos que aparecem nos filmes de Hollywood. Estava sentada na cadeira do meu jardim, admirando o sol se pôr numa linda tarde de primavera. As crianças brincavam na rua, andavam de patins e de bicicleta nas calçadas das casas. A vizinhança saboreava um chimarrão e colocava o papo em dia. Eu observava.

Senti-me privilegiada, que lindo lugar para se viver. Que vida! Como são doces os dias nesta ruazinha sem saída, quase um condomínio fechado. Vim morar aqui com 3 anos de idade, lá se vão 20 anos! Era um pouco diferente, as residências não eram cercadas por grades, qualquer um podia adentrar o jardinzinho que recepcionava a porta de entrada, tocar a campainha e convidar:

- Vamos andar de bicicleta?

Eu não pensava duas vezes:

- Vamos!

As casas eram menores também, tinham apenas um único piso. Eram todas iguaizinhas, como numa Cohab. Estas singelas moradias foram aos poucos se transformando, foram sofrendo reformas e algumas são hoje palacetes. Todos querem morar na Joaquim Oliveira, todos querem a qualidade de vida deste refúgio; seja classe média, seja classe alta.

No entanto, sinto que muitas coisas não mudaram. Certa vez estava voltando da faculdade, caminhando pelos passeios, quando percebi uma garotinha agachada atrás do muro. Ela me olhou, estendeu o dedo indicador e colocou-o em frente aos lábios, como quem diz: - não conta que eu estou aqui. Eu sorri. Estavam brincando de esconde-esconde, tal qual fazíamos.

Há também momentos traumatizantes. Recordo do meu namoradinho de infância deitado em cima do muro da minha casa, dando seus últimos suspiros de vida. Triste! Pobres pais! Queria nunca ter visto aquela cena, mas vi. Lembro dos gritos de desespero da tia que cuidava dele e da irmã enquanto os pais trabalhavam. Lembro dos choros. Lembro dos meus pais pensativos. Triste!

Fico por alguns minutos saudosista, recordando e revivendo minha infância. Os dias que intensamente passei ali com meus amigos e minhas irmãs. Parece até que tenho 70 anos, como uma vovó que começa uma estória assim: - Quando eu era pequenininha lá em Barbacena...

Desperto das minhas lembranças com um chamado:

- Oi vizinha! Podes alcançar a bola que caiu aí no teu quintal?

Levanto-me da cadeira, entrego a bola nas mãos dela. É! Nada mudou...

Gisela Andrade

Gisela Andrade
Enviado por Gisela Andrade em 17/02/2009
Código do texto: T1443201
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