É Carnaval!
O carnaval chegou em mim, na manhã de sábado que chovia como um choro de criança. Nunca vi tanto colorido pelas anáguas de Santa Tereza, que estava também a sambar. As ruas estreitas eram avenidas alegres por onde passavam odaliscas, super homens e as vedetes. Sim, as vedetes circulavam em grandes números a pular e a cantar nossas tradicionais marchinhas de fevereiro.
A descida escorregava pela multidão de pés que insistia em fabricar o calor vindo do suor, assim a chuva entristeceu e decidiu silenciar. Os piratas também estavam, suspenderam as batalhas e saíram do mar para encontrar tão belas fadas cujas asas de tule faziam-nas repousar levemente pelas batidas do tambor. Pierrôt lá não chorava, já que o rei deixara o trono pra brincar de folião; dera-se um dia de liberdade aos presidiários, um de fantasia aos infelizes e uma gota de companhia à joaninha solitária, que feliz segurava a mão de um marinheiro encantado.
Soavam os surdos, os tambores, flautas e pandeiros numa harmonia saborosa que pintava o sete como rastro de cheiro do charmoso bonde amarelo, e por onde passava refrescava o carnaval. Era a Maria Fumaça que inaugurava os sorrisos de amor e abria as portas e alas à nostalgia dessa imensa inspiração.
Cartola estava na avenida, erguendo os braços para Noel e Jamelão. Lembro de ter visto também Carmen, cujas frutas na cabeça foram razão de ser ela a rainha, e ela sambava rodopiando e remexendo as ancas num suspiro de gratidão. Vinícius e Tom, sentados na calçada compunham outra célebre canção, na qual resolveram chamar: Garota de Santa Tereza.
A tarde caiu e o samba dormiu. Não antes de tê-lo trazido à mim, o estranho mascarado que coloriu meu carnaval. Eu teria perguntado seu nome, sua morada, mas meus pés ainda dormentes esqueceram de pensar. E amanhã tudo volta ao normal, seja você quem for, seja o que Deus quiser...