O sótão
Nossa casa possuía a cobertura feita de uma forma pontiaguda, reflexo de construções européias que usavam o telhado com ângulos bem pronunciados a fim de que a neve que ocorria com freqüência naquele continente não se acumulasse sobre ele e com isso, devido ao peso, fazê-lo cair.
Com este modo de construir, a casa ficava com um espaço aproveitável entre o forro e a cobertura, podendo ser usado como quartos e no nosso caso como uma despensa onde eram guardados vários tipos de coisas pouco usadas.
Lembro que na época, eu com quatro ou cinco anos de idade, era o encarregado de abrir de manhã e fechar a noite duas janelas, uma em cada extremidade, existente neste sótão.
A medida servia para manter o ambiente ventilado, livrando-o de possíveis odores que pudessem surgir devido à variedade de coisas que eram ali depositadas.
Havia ali coisas estranhas incluindo até couros de animais e o crânio de um leão fora outros objetos que aos poucos, com o passar do tempo, ali eram depositados.
O acesso ao sótão, que também chamávamos de jirau, era feito por uma escada com pequenos degraus posicionada mais ou menos no meio da peça, com isso as duas janelas ficavam na mesma distância do local da saída.
Narrei todos estes detalhes para falar do medo que eu sentia de subir ao local para fechar as janelas, procurava ir antes do escurecer, mas algumas vezes devido algum contratempo tinha que ir no escuro mesmo e ai o coração disparava, quero salientar aqui que isso se passou a bem mais de quarenta anos, luz naquele tempo lá no interior, só de lampião a querozene.
A primeira janela, tudo bem, entrava ainda alguma claridade, a segunda eu fechava já voltado para a escada a qual descia correndo com o risco de tropeçar e com isso acabar me machucando, pior ainda era disfarçar dos pais e irmãos o pavor que eu sentia.