Os telefones já não tocam…
Quando comecei a trabalhar em 1999 foi na altura em que os telemóveis, ou celulares, deixaram os patamares de preços proibitivos, para aqueles mais acessíveis, tendo em contrapartida máquinas de má qualidade…
Lembro-me bem do meu primeiro, comprado em finais desse ano com uma pequena parte do meu primeiro ordenado, que além de ter uma memória de quase nada, bastava um pouco de humidade para ter que o desmontar, tirar o cartão e limpar a dita humidade perfeitamente visível…O pior é que o comprei no Outono e que de dois em dois dias tinha de lhe limpar a dita humidade…
Comprar um telemóvel foi abrir-me ainda mais ao mundo, de tal ordem que multipliquei os contactos e comecei a gastar imenso em chamadas…Também foi uma altura de consumismo, dado trocar de máquina de dois em dois anos, por razão nenhuma, apenas porque me apetecia, e bastava que em quinze dias me falhassem duas chamadas para arranjar motivo para a trocar, e logo eu que quando adquiro qualquer tipo de bem consumível, este passa a ser perene nas minhas mãos e dura muito mais tempo do que o previsto, não que seja um agarrado ao dinheiro, mas porque gosto de ter as coisas o máximo tempo possível comigo, de tal ordem que os velhos telemóveis ainda se acumulam algures numa gaveta, à espera que me torne célebre e que estes façam parte do meu valioso espólio (risos).
E foi assim durante muito tempo, esta dança de trocas e de imensas chamadas, de tal ordem que quando comecei a viajar para fora de Portugal tinha sempre de levar um telemóvel comigo, não que alguém me fosse ligar, mas porque eu tinha necessidade de ligar…
Entretanto também decidi ter um telemóvel para as diferentes redes, só falhando uma, porque descobri ter um duplo e barato tarifário para duas das redes…
Até que desde há uns meses tudo mudou.
Pura e simplesmente que deixei de telefonar e passei a usar muito mais o correio electrónico, o Messenger, um site de escritores onde estou desde princípios de 2006 e mesmo um blog que entretanto criei para comunicar com o mundo.
Posso dizer que quem não está nestes meios de comunicação, pura e simplesmente não Está, ao ponto de já não telefonar nem mandar mensagens na altura dos anos, Natal ou fim de ano, e se o fiz ou faço ou é por mail ou coloco qualquer coisa no blog a celebrar essa ocasião…
De raiz estabeleci contacto com uma editora por mail e dentro poucos dias espero publicar, tudo quase só por mail…
Não sei se posso chamar a isto um exílio, não sei, sei que conservo um grupo de fieis amigas e amigos de pouco mais de 6 pessoas e com os quais comunico com alguma assiduidade, grupo a que chamei de Imortais, todos os outros passam-me de certa forma ao lado, e se querem saber a verdade, não sinto assim tanto a falta dessas outras pessoas…
De resto a minha vida é bastante normal, trabalho normalmente, escrevo todos os dias, ouço horas de música no meu Mp3, vejo duas horas de televisão, vou uma vez por outra às orações de Taizé e ao cinema, leio imenso e, pelo menos uma vez por mês, vou beber uma cerveja ao meu café de estimação.
Há uns anos este cenário era capaz de me aterrorizar, pelo seu ostracismo, mas hoje sinto-me feliz nele, sinto-me estranhamente tranquilo e realizado.
Ah…os telefones? Em dois anos seguidos deram-me dois de boa qualidade que mal utilizo, o que é um desperdício de potencial, pois em tempos era capaz de passar horas a fio a explorar as suas potencialidades, mas hoje…estão a um canto, caso vá alguém ligar, mas de facto
Os telefones já não tocam…