EvoLua

Era quarta-feira de uma lua escandalosamente linda. Acho a lua deslumbrante mesmo quando está em uma das minguadas fases em que se apresenta. Mas ela estava excepcionalmente diferente naquela quarta-feira. A soberania da sua luz e a grandeza da sua posição impunha-se descaradamente naquela noite, sobre nós, os meros terráqueos.

Quando a lua cheia se esbalda, sempre acontece de causar-me uma inexplicável inquietude. Saí, portanto, a andar pela avenida que se fez, casualmente, a avenida dos caminhantes da cidade. Seguia só, em companhia dela, enquanto a minha volta o cenário veloz e barulhento completava a sina do final do dia, de uma cidade em crescimento. Foi então que o antagonismo das circunstâncias despertou em mim a atenção. No alto, em sua magnitude milenar, natural e imutável, havia a lua. Embaixo absorta no frenesi da evolução, a vida acontecia.

No dia seguinte a este momento cósmico lunar, deparei-me com o jornal cultural para o qual escrevo, ilustrando nas primeiras páginas, minha cidade em preto e branco. Registros fotográficos dos anos 40 e 50, trazendo para o presente, no resgate das lentes mágicas, a calmaria das ruas do passado. A mesma rua em que caminhei naquela quarta à noite, sob a lua, em meio à agitação.

Impossível, tanto quanto incoerente, estacionar o planeta ignorando as ações do tempo sobre a vida. Difícil, porém, não temer o futuro enquanto se vive o efervescer do presente. Por isso a lua me pareceu tão intrigante naquela noite. Em meio a tantas transformações, ela mantém o mesmo encanto do passado.

Pode parecer piegas ou sentimentalismo insólito e poético, utópico demais. Mas não dá para negar a nostalgia que nos convence que, certas coisas jamais deveriam ficar obsoletas. Impossível ignorar que o desenvolvimento desenfreado que modifica e atualiza tudo, a todo o momento, tem negligenciado o valor intrínseco das coisas. O valor emocional, aquele que dura para sempre na lembrança.

A evolução, incontestavelmente necessária, tem usurpado a qualidade das coisas tornando-as tão efêmeras quanto substituíveis. Ao exemplo da seleção brasileira, da música brasileira, das novelas brasileiras, nada mais é tão veemente ou admiravelmente bom e emocionante, quanto um dia o foi.

Perdem-se valores, adotam-se outros. Este é o ciclo exigível do progresso. Ótimo seria adotarmos a cultura oriental que, cultiva a espiritualidade com a mesma competência que desenvolve a inteligência inventiva e criadora. Ou seja, incorporemo-nos a era tecnológica, utilizemos as ferramentas de ponta para conectarmo-nos à realidade presente. Todavia, não robotizemos a vida. Não banalizemos sensibilidade humana, nem abortemos as emoções.

Periodicamente, em meio ao burburinho frenético futurístico, a lua destoa, propositalmente, para lembrar-nos que acima de tudo está o espírito e este também necessita evoluir, mas de uma forma bem diferente. Evoluamos!

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 15/02/2009
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