ESQUISITICES

“Mundo, mundo, vasto mundo

Se eu me chamasse Raimundo seria uma rima

Não seria uma solução.”

(Drummond)

___________________________________________________________

As pessoas do interior influíam mais no modo de ser das cidades grandes. Parece que as coisas estão se invertendo. A cidade com seus medos, poucos amigos e impessoalidade é que está mudando as pessoas. Dizia-se que Belo Horizonte era um interior grande. As pessoas vinham para buscar uma vida melhor, seja no mercado de trabalho ou por causa de maiores opções de escolas. Por conta do convívio um tanto pacato e caloroso acabavam reproduzindo aqui a própria vida interiorana. Vizinhos se conheciam e se tornavam solidários na alegria e na tristeza. Bares eram ponto certo de amigos de verdade, comércio de bairro ainda tinha o contrato do fio do bigode. Para quem não chegou a experimentar uma relação dessas, é o mais sincero e bem acabado pacto de confiança na integridade tanto de quem fornecia como de quem comprava em honrar a sua palavra ou a anotação na velha caderneta do fiado.

Corremos atrás de uma modernidade que não costuma dar carona a todos. Especialmente no que diz respeito a valores que tocam a essência humana. Quanto maior e mais vai crescendo o número de pessoas, mais as cidades vão subtraindo a integração entre elas. Disputamos espaço e destaque a todo momento e ao mesmo tempo queremos dar um contraditório grito de eu existo. A visibilidade que fazia bem ao ego numa relação de comunidade perde lugar para o viva eu, acima de tudo e de todos. Não espanta muito o aumento de casos de crimes passionais, de fervores religiosos beirando a um fundamentalismo míope que ilustram pobremente as tentativas das pessoas se agarrarem a algo mais profundo e que dê apoio a elas para não sucumbirem a tanto vazio. Tanta correria por sobrevivência, que a sociabilidade já está no último dos planos de vida de grande parte ou maioria das gentes.

Pode parecer chavão ou lugar comum, mas quem busca felicidade numa selva deve dar um jeito de fazer amizade com as feras. Ou será esquisitice minha?

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 15/02/2009
Código do texto: T1440257