Carnaval: 
             o sonho de um folião
                                   autêntico


         
Tinha prometido a mim mesmo não mais escrever, pelo menos por agora, sobre o carnaval da Bahia.
          Tudo para não me tornar, de vez, aquele sujeito muito chato que só sabe baixar o cacete na festa momesca, agora pulada em Salvador.
          Não é que eu seja (mas termino sendo) um saudosista irrecuperável, título que já me deram em outros carnavais. 
          Querendo, por exemplo, que se pule carnaval, em Salvador, como se fazia nos anos l960.
          O mundo vai mudando e com ele o carnaval. Quem não sabe disso?
          Em crônica recente, disse, aqui no meu site, que o tempo das marchinhas acabara; e por que faço restrições ao carnaval-axé. 
          Mas, em verdade, o que me deixa triste, é o fato de cada vez mais desaparecer dessa festa, tão louca, o que o advogado Walter Queiroz Junior chama de "o espírito fraterno do Carnaval-participação", no fantástico salão carnavalesco de Salvador, formado por  suas  ruas e avenidas. 
          Claro que os blocos - e aqui discordo do meu nobre colega articulista - sem a proteção das cordas, no carná da capital baiana, tornam-se inviáveis. 
          Eu pergunto: qual a mocinha da sociedade local ( e aquela que aqui chega para pular os seis dias) se arriscaria a enfrentar a violência (não adianta esconder) partida de vagabundos e marginais  que vão para a avenida somente para dar porrada?
          Livres desse constrangimento estão as estrelas. 
          Elas se tornam intocáveis no alto de seus luxuosos trios elétricos  e no aconchego de seus nababescos camarotes, onde rola o escocês legítimo e, segundo se diz por aí, sob a penumbra de um discreto fumacê.
           Com o progressivo agigantamento d0 carnaval de Salvador,  não é novidade, agiganta-se, também, o "bloco dos desordeiros". E o perigo é iminente.
          Mas, afinal, o que me fez quebrar a minha jura de nem mais uma linha sobre a folia de Momo que, aqui em Salvador, dura uma semana, sem contar com os ensaios?
          Quebro a promessa feita depois de ter lido o artigo intitulado "A esperança é azul-turquesa",  escrito por Walter Queiroz, que o jornal  A Tarde publicou  hoje,  dia 14 de fevereiro, com merecido destaque.
         É o Waltinho, compositor, que durante anos, animou o carnaval de rua dessa cidade, com suas inspiradas músicas, que ficaram para a eternidade.
          Ele esteve à frente - lembram-se? - do simpático Bloco do Jacu; aquele das inconfundíveis mortalhas (não abadás)azul-turquesa, e que mexia com a multidão, cantando: "Tomara que este ano eu lhe encontre de novo/ no meio da rua, no meio do povo..."  
          Mas isso foi na década de 1960.
          De que esperança fala Waltinho, no seu oportuno e coberto de poesia artigo?
          Depois de manifestar sua esperança de que "num futuro próximo, as novas gerações retomem o espírito fraterno do Carnaval-participação", Walter Queiroz completa: "Esperança de que pierrôs  afetuosos convoque sensuais colombinas para uma linda parceria e que todos, sobretudo a juventude, redescubram o prazer de namorar, sem a sofreguidão e o desalento de tantos encontros vazios.
          Vale lembrar: quem muito "fica" pode ficar só."
          Não vou escrever mais nada.
          Não devo, com minha inexpressiva pena, tirar de foco o artigo do Waltinho, com certeza a página mais corajosa e romântica que, nas últimas décadas,  já se escreveu em derredor do atual carnaval de Salvador. 
          Um artigo de um folião autêntico. 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 14/02/2009
Reeditado em 21/03/2009
Código do texto: T1439392