Por vezes...
Tem momentos da vida em que se acorda com uma indisposição tremenda!
Não digo isso por um querer mórbido de morrer – Jamais me reportaria a isto – mas pelo dia que se está por vir mesmo, como o trabalho, a escola, a faculdade, fazer o café para o marido, preparar as crianças para a escola, tudo numa monotonia extenuante, cansativa, diria eu na verdade fastidiosa. E se levanta morosamente do travesseiro com uma intensa, ou até mesmo tênue vontade de se deitar, ainda mais lentamente pondo o pescoço para se acomodar, e retomar aquele sonho maravilhoso, ou de ganhando um premio em dinheiro ou de tendo um sonho finalmente realizado – Como talvez ganhar um oscar! – e na exata hora da aclamação, no dizer aos presentes um lindo esboço de agradecimento em inglês, “ Thank you so much! ”, o bendito despertador toca, nos avisando que a terra dos sonhos pertence a noite, ou talvez ao senhor João Pestana.
Ah dia... Colocamos então de maneira contrariada o pé na sandália, já meio que soltando resmungos e muxoxos, do porquê de se ter de acordar agora, bem na exata hora que a linda apresentadora nos traz a estatueta, e que eu de jeito singular levantaria o meu braço de modo que não balançaria as minhas pelancas, como uma miss!
E bem, por vezes parece que depois duma manha meio conturbada toma um outro rumo, onde tudo em que se aplica qualquer esforço se resolve facilmente, como que eu tremesse meu nariz, e pozinhos mágicos aparecessem, junto a sons um tanto quanto leves e bem agudinhos de sininhos se reverberassem por toda a sala ao meu redor.
Mas o pior mesmo é quando tudo se dá ao contrario. Não importa quanta força e bem querer, quanto esforço e pensamento se coloque, nada adianta e no fim, dá errado. Olhando com o observar fantasioso de uma bruxa, é como se tudo estivesse amaldiçoado ou tomado por maus agouros; coloca-se o café na xícara e ele derrama, cai bem em cima do único sapato que usamos para trabalhar – Porque não se pode ir para o emprego de sandália – e quando você acha que nada pode piorar acidentalmente a água que se acaba de tirar do filtro cai direto na roupa, molhando todo o chão e tudo mais...
O engraçado é que dias assim tomam formas estratosféricas se não tivermos um pouco de cuidado. O carro não funciona, então quando se decide tomar uma condução está acontecendo uma greve por parte dos carteiros – o que afinal os carteiros teem haver com a historia? – os quais acabam por pararem o transito exigindo por parte de seus empregadores salários e condições de trabalho dignas, porque convenhamos, correr todo dia de um cachorro merece sim, um adicional de periculosidade.
Enfim, as proporções desses dias se tornam tão grandes quanto forem suas fantasias. Se sonhamos com fadas, logo haverá bruxas aterrorizando nossas cabeças dando urros e gritos de escárnio, sobrevoando-as com suas vassouras. Se almejarmos um carrinho esportivo que o seja, o nosso bom e velho calhambeque pára de funcionar bem na hora da ladeira; portanto admitamos, é mais sábio quando dormimos e sonharmos, acordarmos. E se os sonhos forem bons, tentarmos realizá-los; se forem ruins soluciona-los – Ou ao menos como diz os mais velhos, conta-los para a latrina.