A CULTURA DO POVO NÃO PODE MORRER
Ás dez horas da manhã, do inverno de 2004, Janaina, e sua Equipe, representantes da entidade FAOP – Fundação de Artes de Ouro Preto, chega a nossa cidade, Mimoso do Sul – ES, missão, levar informações sobre o movimento cultural “As Pastorinhas” .
Hospedaram-se no Hotel Marilua, próximo á Prefeitura Municipal; Janaina trazia consigo várias anotações de arquivos; Mestra do evento: Sonia Maria Vivas Amado, descrevia o folclórico de religiosidade desde 1902, anualmente, acontece junto ao presépio, na noite de Natal em Santo Antonio do Muqui – Distrito de Mimoso.
Janaina dividiu a Equipe, dois dirigiram, para Santo Antonio, um permaneceu no hotel, ponto de referência para comunicação. Ela foi à Prefeitura obter maiores informações, trouxe também o programa “Oficina de trabalho”, duração de uma semana, e, pretendia pedir apoio à Prefeitura, através da Secretaria de Cultura, no sentido de realizarem em conjunto tal resgate, como: local dos ensaios, som, palanque, ônibus, e, por fim patrocinar o “coofe Break”, no encerramento e a demonstração da cultura, As Pastorinhas.
Janaina, no seu íntimo, sabia que a cultura e a força de um povo, oferece fé e união junto á comunidade.
Ela chega á sala de espera do prédio público e anuncia; a secretaria pediu que a sentasse, pois o Prefeito logo iria atendê-la.
Permaneceu sentada por mais de trinta minutos, ia observando que pessoas bem vestidas, quando chegavam, com jeito todo especial, a secretaria introduzia-a para ter encontro com o Prefeito, sentindo discriminada pela espera, tentou argumentar com a secretaria:
“Filha, por favor: sou de Ouro p...”
Não acabou de pronunciar, foi cortada pela secretaria, que delicadamente pediu para continuar confortada na cadeira, que ela iria dar um jeitinho para tal entrevista. A visitante levantou-se pedindo dez minutos, que já voltaria.
Voltando dentro de quinze minutos, totalmente transformada numa vaidade fútil e egoísta, Ela mesma confessou mais tarde em nossa reunião. Pois bem, trocou blusa e saia por um conjunto de seda na cor vermelha, as sandálias, por um belo Luiz XV e uma bolsa combinando o traje, acrescentando a maquiagem e algumas jóias, que chamavam atenção somente pela aparência.
Quando terminou de subir em uma escada de mármore branca com corrimão em alumínio, ao pisar no último degrau, foi á secretaria que primeiro se manifestou:
“Parece que a senhora quer falar com o prefeito, temos aqui várias pessoas esperando, aliás, tem mais uma mocinha que foi ali no banheiro e daqui a pouco volta, como já esta quase na hora do almoço, e parece que a senhora está com bastante pressa; acompanha-me, irei leva-la até ele.
Ao entrar o prefeito deu uma olhada discreta na visitante, solicitando um suco e cafezinho.
Após dez minutos de conversa, Janaina está um pouco decepcionada, pois o prefeito afirmara não ter no Município tal movimento folclórico, pedindo que aguardasse mais um pouquinho. Enquanto era servido um suco de caju; Janaina observou que o prefeito estava falando ao telefone com o Departamento de Cultura, já que ela ouvira num tom baixo:
“Parece chefe, num guarda roupa impecável”
Foi interrompida pela voz do servente: “Olha o cafezinho”
Janaina estava impaciente, pois até agora as informações que traziam, não haviam ainda sido resolvidas. A voz do Prefeito quebra o silêncio: “Não poço ajuda-la, Nosso município não tem essa riqueza de cultura que a senhora me relatou, lamentamos.”
Ela saiu decepcionada, ao passar em frente á secretaria, ouviu a exclamação:
“Até senhora! Tenha, uma ótima viagem de regresso, estou tentando lembrar-me de onde eu a conheço”
Ao chegar ao Hotel, a Equipe que foi em Santo Antonio já estava de volta, contou que teve enorme sucesso, foi atendida pelo poeta da terra, Arcipio Calegario, que informou que realmente ás Pastorinhas existem, a Mestra, Sonia Maria, não estava na vila, mas nos poderíamos encontra-la na residência de sua irmã, deu-nos o telefone, aqui mesmo em Mimoso.
Janaina e Equipe saíram imediatamente para falar com Sonia, antes deu um telefonema para acertos da visita. Quando ela chegou com a Equipe, já estavam presentes, Alci, Jeza, Alcidete, Sonia e sua mãe Odette.
Janaina foi chegando, agora sem o traje, ela mesma contou a história da visita ao Sr. Exº Prefeito. Abriu uma pasta, tirou alguns papeis do Projeto do trabalho da Oficina, sobre o resgate da Pastorinha que faria se realizar no período de 19/05 á 11/06/2004, com apoio do SEBRAE, para o lançamento do catálogo da. Bacia do Rio Itabapoana.
Continuando, ela afirmou que havia uma recompensa em numerário para os colaboradores: Mestra, Sonia Maria Amado Vivas, Historiador: Alci Santos Vivas Amado e para o Monitor da Oficina, Carlos Henrique Muri.
Os trabalhos da Mestra e do Historiador foram doados para FAOP, Janaina ficou bastante emotiva, telefonou imediatamente para á sua repartição colocando ciente dos acontecimentos.
No inicio da semana da Oficia programada, a Prefeitura que havia assumido o compromisso de disponibilizar um ônibus para o transporte dos figurantes, não o fez. A Equipe muda então de localização, dos trabalhos da oficina, de Mimoso para a Vila de Santo Antonio.
“Os resultados de toda a programação, da manifestação foram notórios e por sinal muito satisfatórios, a alegria da comunidade era visível”
Após ficarem prontos os convites, Janaina pede a Jeza que a ajude na distribuição, o primeiro convidado seria o Departamento de Cultura; quando subiam a pequena ladeira que dá acesso ao prédio, Janaina comenta: “Está tudo caminhando maravilhosamente bem, hoje mesmo pela manhã estive com Luciene Floriano, gestora local do SEBRAI, ficou radiante, mais ainda tenho pequena dúvida, tive a imprensão “de algumas pessoas” pensarem que eu estou ocupando seu espaço.”
“Coisa de sua cabeça” replicou Jesa, acrescentando: “O povo mimosense e bastante hospitaleiro”.
Chegamos ao Departamento de Cultura, entregamos o convite, comentamos pelos esforços da comunidade; ao término de uma rápida visão sobre o convite, a responsável pelo Departamento, deu um pequeno sorriso e acrescentou:
“Apesar de ser dia útil, creio não ser possível minha presença em Santo Antonio, minha empregada não virá esse dia, e eu tenho de alimentar minhas galinhas e os patos.”
03 de novembro de 2004, recebi, um memorando da FAOP, agradecendo o apoio, o resultado das manifestações foram satisfatórias, Estava quase chegando ao fim, o catálogo “Resgate Cultural da Bacia do Rio Itabapoana” iria ter 251 folhas, bem encadernamento, e que na página 220, o texto de Silvana Cançado Trindade, fotografia, André Fossati, alcançaram os objetivos.
Festa do bairro Itapuã, programamos levar o conteúdo das pastorinhas no recinto da comunidade que ainda é desconhecida por muitas pessoas. Aproximava o horário marcado e nenhuma pista do movimento cultural; soubemos que a Prefeitura, por mais uma vez não cumpriu o trato da condução dos figurantes, de Santo Antonio para Mimoso e vice-versa, onde quase mil pessoas aguardavam ansiosamente, tal evento.
Fizemos uma avaliação geral do evento, de todo compromisso assumido pela Prefeitura, ela cumpriu: a aquisição da Kombe, que atendeu-nos no percurso, Mimoso X Santo Antonio – Santo Antonio X Mimoso, nos dias dos trabalhos da Oficina, o Coofe Break e a ornamentação a cargo da Secretária de Turismo.
Novo ano de 2005, eu, passeava no Rio de Janeiro, nesse dia visitando um primo, no horário do almoço, estando á mesa, quando ele gritou da sala:
“Primo, venha ver reportagem em rede Nacional lá da sua terrinha”
Ao fixar a tela da TV: “Rede Globo, Espírito Santo, ao assumir a prefeitura numa pequena cidade interiorana, Mimoso do Sul, a prefeita eleita encontra a frota sucateada, o descaso foi tão grande, que ela pediu para colocar a frota inteira na Praça Central da cidade, como podemos observar, caminhões, patrois, retrós, pá carregadeira, ambulância, tratores, Kombis, motos e ônibus, são sessenta veículos, uma realidade absurda.
Segundo reflexões dos movimentos organizados, a exposição em praça pública foi com a finalidade única de registrar uma nova era; e bem como, despertar ao povo para uma consciência política.
Dei um leve sorriso, creio que meu primo, não gostou e perguntou:
“Lá não existem vereadores?”
“São quinze, acredito até demais” respondi entre os dentes.
“E o que eles fazem, não fiscalizam o bem patrimonial? Por que você sorriu?”
Calma, quantos questionamentos, e, que lembrei de um fato na cultura do povo, agora entendo por que não fomos atendidos pela Prefeitura, Sr. Prefeito desculpa-me.”