Mulheres x Sapatos

Mulheres x Sapatos

suzabarbi@hotmail.com

– Aconteceu alguma coisa?

– Não. Por quê?

– Você nem está prestando atenção no futebol.

– Não...

– E que tanto você olha pro meu pé?

– Nada. Só estava olhando...

– Você olhando pro meu pé em dia de jogo?

– Sabia, Marieta, que o homem muda?

– Nem vem, Juvenal. Nem vem. Filosofar enquanto seu time tá perdendo de goleada?

– Ué. E desde quando você presta atenção nisso?

– Desde que “o homem começou a mudar”...

– Não enche Marieta. Não enche.

– Então pára de olhar pro meu pé!

– É que estava pensando...

– Pensando em quê, ô Juvenal?

– Nessa mania que mulher tem de comprar sapato.

– Já vai você falar que eu gasto demais...

– Não, Marieta. Só acho que tem sapato demais.

– Ih! Começou...

– Comecei nada. Mas conta aqui: quantos pares de sapato você tem?

– Vai implicar?

– Te juro que não.

– Humm...uns 20 pares. De sapato. Mas de sandálias...mais uns quinze.

– Num tô falando? Nem uma centopéia precisaria de tanto sapato.

– Mas eu preciso. Trabalho pra isso.

– Trabalha pra isso! E o bonitão aqui que se desmanche pra pagar as contas, né?

– Tá vendo? Sabia que essa conversa ia desandar. Vamos parar por aqui.

– Vamos. Mas só mais uma coisinha.

– Isso não tá me cheirando bem...

– Tem quanto tempo que você não compra sapato?

– Não sei. Acho que o último foi quando a Edileuza separou. Nossa! Ela e ficou arrasada, lembra?

– Da separação sim. Dela arrasada não. Não foi ela quem quis ficar livre do Wanderlei?

– Também pudera, né Juvenal? Onde já se viu um homem falar com a própria mulher que se casou com uma coelhinha, que acabou virando uma panda? Aí ela deprimiu.

– Deprimida e gorda...

– E desde quando você repara nisso, Juvenal?

– Sabia, Marieta, que o homem muda?

– Ih! Lá vem você de novo.

– Mas voltando ao assunto: não foi quando ela se separou que você procurou aquele nutricionista?

– Claro! E o medo que eu fiquei de desandar na balança também?

– É... naquela época você estava comendo uma barbaridade...

– Deu pra isso agora, Juvenal? Reparar no prato dos outros?

– Dos outros não. No seu.

– Mas foi ótimo, não foi Ju? Eu procurar o nutricionista? Não continuo uma coelhinha?

– Mas por um beicinho de pulga quase foi promovida a filhote de panda.

– E o quê tem isso a ver com os sapatos?

– Antes de responder, só mais uma perguntinha.

– Não estou te entendendo hoje não, Juvenal.

– Desde que você foi ao nutricionista nunca mais comprou sapato?

– Não. Aliás, está passando da hora.

– Tirando a sua compulsão...

– Que compulsão, ô Juvenal?

– Você tem pensado em comprar sapato depois que foi ao nutricionista?

– O quê o nutricionista tem a ver com isso?

– Me responde!

– Pensando bem, acho que não. Por quê?

– Porque estou dando o primeiro passo (sem querer fazer trocadilho, Marieta) pra entender porque toda mulher tem mania de comprar sapato.

– Ah é? E porque você acha que nós, mulheres, “temos mania” de comprar sapato?

– Porque o pé não muda de tamanho!

– Não entendi. Te juro, Juvenal, que não entendi.

– Pensa então comigo, Marieta: quando vocês, mulheres, estão com uns quilinhos a mais (no caso da Edileusa, arrobas), fogem que nem malucas das lojas de roupas, não é?

– Humm... certo...

– Voltam pra casa loucas para comprar “aquele” vestido, mas preferem a morte a ter que assumir que o manequim 42 passou pra 44.

– Humm...certo...

– O quê fazem então?

– Colocamos durepox na boca e nos matamos de malhar (no caso da Edileusa, deprime).

– Pois então. Na falta do vestido vão comprar o quê? Sapato! Por quê? O pé é a única parte do corpo que, com certeza, nunca vai deixar vocês na mão (no caso da Edileusa, separada e gorda).

Ela deixou Juvenal na sala e correu pro banheiro. Tirou toda a roupa, óculos e até o batom. Pra subir na balança, nem de batom!

Pesou exatamente a mesma coisa que registrou quando foi ao nutricionista.

Definitivamente, dali para frente teria que fazer uma escolha: sapatos ou ficar magra.

E pela primeira vez, resolveu, sem trocadilho, pesar sua decisão...