O Descansar do Astro-Rei
Nossa grande ligação com o Sol, provavelmente, vem do fato de ele ser a única estrela do nosso sistema planetário e, também, de ser a mais próxima da terra.
É tão forte essa ligação com o Sol que está presente nos nossos primeiros desenhos.
Acreditamos que muitos recordam de sua perplexidade nos bancos de escola, quando a professora desvendava os mistérios daquela imensa bola de fogo.
Qual de nós, quando crianças, não se admirou ao tomar conhecimento de que sua constituição é gasosa, que as temperaturas no seu interior atingem dezenas de milhões de graus centígrados e que suas protuberâncias se elevam a centenas de quilômetros de altura?
Nosso objetivo não é falar do sol como centro do sistema, mas sim do momento em que o astro-rei inicia o seu descansar.
O crepúsculo é, sem dúvida, um dos momentos de maior magia, encenado pela Mãe Natureza no teatro do Universo.
Sabemos que a sucessão permanente de dias e noites é conseqüência do balé solitário da Terra. Da mesma forma que se a Terra não dançasse, também, com o Sol, não existiriam as estações.
São o movimento, o ritmo e a dança dos astros que encenam o crepúsculo.
Acreditamos que o crepúsculo, por representar toda essa harmonia da dança da vida, provoca, em todos aqueles que o assistem, uma vontade de comunicar, de cantar a vivência daqueles minutos.
Aproveitamos para alertar aqueles que, por ser uma peça encenada diariamente e não sair jamais de cartaz, sintam-se seduzidos por seu comodismo a continuarem adiando...
Os minutos em que o Astro-Rei se recolhe para descansar têm magia. É tão forte que consegue alterar comportamentos e sentimentos dos homens e de outros seres.
Depois de trabalhar doze horas seguidas, comandando a produção de oxigênio pelas plantas, preparando as chuvas, bronzeando corpos, espalhando luz e sombras, oferece a noite bordando o céu de estrelas e espalhando o luar.
Com seu mergulho no mar ou com o seu escorregar por detrás dos montes ou planícies, o Sol convida ao descanso os que trabalham, catalisa a solidão nos que estão sem par e estimula nos homens a vontade de amar.
“Por-do-Sol” são as rimas resultantes dessa vontade de expressar a vivência da hora-mistério em que o dia não sabe se fica com o Sol ou se cede ao luar.
Por-do-Sol
Cigarras aos cantos.
Pássaros, retornando aos ninhos,
gorjeiam para avisar ao sapo
que inicie o seu coaxar.
É dentro deste compasso
que homens solitários
caminham para um bar.
É a hora - mistério
em que o dia indeciso
não sabe se fica com o sol,
ou se cede ao luar.
Por-do-sol, por-do-sol,
outrora romântico,
convocava os casais
aos bancos de um jardim,
para um bom bate-papo
e carícias sem fim.
Por-do-sol, por-do-sol,
o descansar do astro-rei,
que alguns contemplam,
como auréola dos montes
e outros, como mergulho no mar.
É a hora de deixar de ofuscar as estrelas
e de ofertar aos homens a noite e o luar.
Neste país tropical,
as orquestras dos parques -
cigarras, sapos e grilos -
todos os dias anunciam:
“venham ver o que nunca sairá de cartaz”:
ao momento-mistério,
em que o dia indeciso,
não sabe, se fica com o sol
ou se cede ao luar.