O MUNDO DOS DEFICIENTES
Por acaso o mundo esta cego? Por acaso alguém viu um coitadinho cego? Por acaso alguém viu um retardado? Por acaso alguém viu um pobre coitado numa cadeira de rodas?
A resposta dessas perguntas poderia ser um SIM, mas ultimamente, acredito que elas teriam uma resposta Não, e uma excelente justificativa, aqui existe um ser humano igual a todos, porém com DONS especiais.
O povo brasileiro costuma reprimir a televisão, condená-la pela atuação de maus profissionais que nela trabalham, e mesmo, com tanta gente boa, a palavra para desqualificar a televisão continua cada vez mais forte. Mas, se há tanta reprima a TV, por que será que as novelas de qualidade da globo estão com altos índices de audiência? E por que será que todo mundo diz que não assiste novela, mas em algum lugar deste país, onde quer que estejam, seja na rua, na escola, na igreja, no bar, estão sempre comentando sobre algum personagem?
É, realmente podemos dizer que o povo brasileiro é um povo muito crítico, mas às vezes, critica de mais, e essa crítica acaba sendo generalizada de maneira absurda.
Vamos nos centralizar na novela das 8, que hoje em dia, é mais novela das 9 do que das 8; a famosa “América”. Já estamos acostumados com grandes histórias, quando uma novela tem a autoria da célebre Glória Perez. Acredito que a Glória é um exemplo de mulher brasileira, determinada, corajosa e, sobretudo, de muita fé, pois só uma mulher da sua personalidade, consegue ainda, ter forças para mostrar ao povo o seu povo, a sua realidade, mesmo que isso lhe traga amargas e tristes lembranças, de tanto sofrimento que passou frente a perda brutal e prematura de sua amada filha.
A Glória, a quem nem preciso dizer o quanto admiro, tem feito da novela “América”, não só uma distração as nossas avós que quando chegam a uma certa idade, viram mais noveleiras do que quando mais jovens, mas, inúmeros serviços de utilidade à nação. São tantos assuntos abordados, dentre eles, o principal que é a travessia de ilegais aos Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Mas, eu acho que a abordagem aos deficientes está sendo de maneira magnífica, de um olhar realmente humano que a autora esta tendo ao escrever cada capítulo, sendo o protagonista principal o cego Jatobá. Além dele, mostra crianças com alguma deficiência, como os cegos Gabrielzinho do Irajá, que tem um talento pra música e versos, como a Flor, que está aprendendo a viver e fazendo com que sua mãe também aprendesse a lidar com uma filha cega, como aquela menina Duda, que faz ballet, toca piano; vale lembrar daquelas três irmãs cegas, que até filme fizeram, entre outros, que cantam, dançam capoeira, tocam teclado, ou seja, que tem algum talento que Deus lhes deu. É algo emocionante!
O famoso programa que a novela criou “É preciso saber viver”, da música do Rei Roberto Carlos, e que na trama da autora, é apresentado também pelo cego Dudu Braga, tem sido realmente um momento de reflexão em torno do “é preciso saber viver”. O ator Marcos Frota, interpretando com grande genialidade o Jatobá, tem levado pessoas incríveis, que se auto superaram e mostraram que além de ser preciso saber viver, é preciso saber vencer. E se todos os telespectadores, parassem sequer um minuto para verem, pensarem, então veriam que ainda, existem pessoas comprometidas em fazer da televisão não um veículo de comunicação sensacionalista, mas um veículo de comunicação que produza o bem, o amor, e lute pelos direitos e a dignidade de muitas pessoas.
Os deficientes que temos visto na novela, não são pessoas que querem serem tidas como grandes, só porque tem um dom especial, mas querem ser tratadas simplesmente como seres humanos. Podemos ter olhos, mãos, pernas, ou seja, podemos ser perfeitos, enquanto para uns falta a visão, faltam as pernas, mas nem por isso, somos diferentes. Como diz Almir Sater, cada ser humano compõem a sua história, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz. E é, dessa forma, que devemos valorizar os deficientes, pois são pessoas que precisam superar adversidades, precisam correr em busca da vida, e para isso, precisam de pessoas comprometidas em lhes ajudar.
Assim, vejo que a novela esta passando uma mensagem positiva, passando a realidade, que os deficientes não são e nunca vão ser coitadinhos, mas que precisam de condições para viver; e infelizmente pouco tem sido feito, mas o que até agora foi feito tem sido de muita valia, como o cão guia, a lei que permite os cegos entrarem com o cão guia em eventos; mas ainda falta muito, como um semáforo eletrônico para cegos, em muitas cidades, o rebaixamento das guias para deficientes físicos poderem andar sozinhos com suas cadeiras de rodas, mais livros em braile, um programa para humildes a fim de aquisição da máquina de braile... entre outros.
Então, não só conclamamos a sociedade nessa luta, mas os nossos políticos “pizzaiolos-mensalões”, que em vez de ficarem colocando mais e mais ingredientes na grande pizza que o país vai ver, começarem a fazer dos seus mandatos, um verdadeiro mutirão de trabalho em prol dos nossos deficientes.
Por fim, quero lembrar ao povo brasileiro, que deixe o preconceito de lado, e comece a assistir as novelas, que nelas ainda existem muito conteúdo sadio, e importante, principalmente as nossas crianças. Precisamos que autores como a Glória, continue através de muitos “Gabrielzinhos do Irajá”, “Flores”, “Dudas”, “Jatobás”, “Dudus”, entre outros, a mostrar a cara do nosso povo, muitas vezes escondido, e que precisa do nosso apoio, da nossa cooperação, do nosso verdadeiro sentimento de “amor ao próximo”.
E que, os nossos deficientes continuem atravessando montanhas, com fé e esperança, ensinando a nação que o mundo é dos que vivem, dos que lutam, dos que acreditam, não dos que se abatem facilmente.
* ESSA CRÔNICA ESCREVI EM 09 de Setembro de 2005.