O CARNAVAL - NO RIO DE JANEIRO
Eis que chega o Carnaval, tempo de folguedo, de alegria, e de descontração. Festa mais popular do mundo, que só perde para o Natal. Precede a Quaresma – Os quarenta dias que decorrem desde a Quarta-feira de Cinzas.
Quando a semana do Carnaval se aproxima toda a cidade se mobiliza e se divide. Quase metade da população se afasta da Cidade, pela prática de outros costumes e crenças, que prefere a distância da euforia, do folguedo e da alegria do carnavalesco. Dirige para pousadas, sítios, praias, quando aproveita para reunir a família em férias, etc...
Até a Natureza parece saber que o Carnaval se aproxima... Ao redor da Mata Atlântica, as copas verdes das árvores nativas, amontoadas ou sobrepostas umas sobre as outras, parece com uma grande tela de fundo verde, com nuances no tom roxo escuro, ou lilás meio rosado, das Quaresmeiras e dos Manacás, aqui e ali, em contornos de nuvens, por toda a mata, que caminham com as serras nas sinuosas estradas. A Quaresmeira parece anunciar em cada quilômetro, em suas copas florescidas ou começando a florescer, que ao culminar o tempo da alegria, as atenções do mundo voltarão sobre uma comemoração mais importante ainda: A Páscoa.
Há um grande movimento por todo lado. Durante o dia, nos barracões das Escolas de Samba, os trabalhos são árduos para os artistas, dirigentes e os colaboradores, que vão até à madrugada, incansáveis nos preparos dos carros alegóricos, dos motivos das fantasias, e em tudo, a beleza e o brilho como fator principal do Desfile.
Nos fins de semana, de longe se ouve as batidas dos tambores afinados com a bateria e as cantorias do samba na voz dos foliões, até que fique na “ponta da língua”. Todos se misturam na dança e na cantoria: senhores, senhoras, jovens e crianças, no mesmo querer, o de levar bem o samba na avenida. A cidade se enfeita de luzes, lanternas, bandeiras, bonecos do pierrô e da colombina... As lojas se enfeitam de confetes e serpentinas!
É mágico o carnaval no Rio de Janeiro. Nunca se sabe se haverá sol, chuva, ou temporal. É verão e nesta estação, são constantes as tardes de trovoadas, com estrondos e raios descendo. Mas no coração do carioca é sempre dia de Sol, mesmo com o céu de nuvens carregadas, descarregando águas torrenciais, deixando as ruas molhadas, casas destelhadas, morros descendo ribanceira a baixo, pedras rolando derrubando as casas. Árvores centenárias tombadas pelas fortes ventanias; enchentes nos rios, e toda a sorte das inconvenientes fatalidades, mas, o pensamento se concentra no Carnaval. De tudo isso, o que o povo se lamenta é que o brilho do Carnaval poderá não ser o mesmo!
O entusiasmo perdura no coração carioca, enquanto as estações de rádios tocam durante seus programas as canções e marchinhas tão antigas, como:
“Ó abre alas que eu quero passar!” (de Chiquinha Gonzaga em1899);
“Anda Luzia, apronta tua fantasia, alegra o teu olhar profundo, que a vida dura só um dia, Luzia, e não se leva nada deste mundo!” (de João de Barro 1946);
“Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí” (de Ivan Ferreira-Homero Ferreira – Glauco Ferreira em 1959);
“Quanto riso, oh quanta alegria/ Mais de mil palhaços no salão/ Arlequim está chorando/ Pelo amor da Colombina/ No meio da multidão” (Zé Kéti – Pereira Mello em 1966).
E o carioca vai se motivando, sem deixar que o entusiasmo desapareça, com o carisma cada vez em alta. O que importa para ele é a fantasia, que foi paga em suaves prestações, à espera do grande dia da sua Escola desfilar, para sair na avenida, cantar e cantar, sambar, sambar, até quando o sol raiar e não agüentar mais!...
Ao amanhecer, da Quarta-feira de Cinzas, a outra metade da população começa a chegar. Aqueles que curtiram outros programas como: praias cheias ou desertas, sol de dourar, piscinas com amigos, acampamentos e Retiros Espirituais em sítios e igrejas, chegam em ônibus lotados ou em carros de passeios, vindos de destinos diversos próximos do Rio de Janeiro, da Região Serrana ou da Região dos Lagos, cheios de passageiros e bagagens, todos cansados do engarrafamento das estradas, mas, contentes, felizes!... Os passageiros diários e os carnavalescos abarrotam o metrô e os pontos de ônibus, no regresso para casa. E outros sambistas também felizes, mas completamente exaustos, acabados, de pés descalços, camisas sobre as costas, enquanto caminham trôpegos pelas ruas da avenida, à procura de um lugar para um pequeno descanso antes de ir para casa, ainda lhes sobram fôlegos para cantar: ”Venha, veja, deixa, beija, seja o que Deus quiser” (de Chico Buarque em 1971), e se atiram sob a areia fofa e quente da Praia de Copacabana.
E assim, cada um a seu modo, comemora o Carnaval do Rio de Janeiro, que a todos recebe de braços abertos, de acordo com os seus costumes e tradições. Acredito, portanto, que o Carnaval, apesar dos pesares, e com os imprevistos e acontecimentos da época é sem dúvida uma festa de folguedo, de alegria e de
descontração.
Iraí Verdan
Magé, 08 de fevereiro de 2009.