E EU QUE SONHAVA COM UMA NOITE DE PAZ

É verdade sim, em todo poeta, artista ou escritor há um manancial inexorável de pensamentos querendo desabrochar e quando exprimidos, de acordo com a natureza de seu gênero e talento conseguem penetrar na nossa alma nos elevando e nos tornando vulneráveis aos sentimentos por acreditá-los verdadeiros e também nossos.

Estou aqui lembrando de Mário Quintana, de quem me agrada ler: “Nada convém que se repita... / Só em linguagem amorosa agrada / A mesma coisa cem mil vezes dita.” Ou então: “Eu sempre que parti, fiquei nas gares / Olhando triste para mim.” Mas, “Do amoroso Esquecimento”, que o poeta se supera, quando diz: Eu, agora – que desfecho! / Já nem penso mais em ti... /Mas será que nunca deixo / De pensar que te esqueci?

Oh Deus! A noite se vai e eu que sonhava com uma noite de paz, estou aqui às voltas com as clarices, com os rilkes, com as yasmines, com os petrarcas, com os drummonds, com os vinicius, com os nerudas e com eu própria quando digo: SENTIMENTOS CONFESSADOS / CONTRADITÓRIOS / VONTADES IMPOSTAS /PALAVRAS / SÓ / PALAVRAS / E A VERDADE / ONDE ENCONTRAR...? / NO OLHAR? / NOS GESTOS? / AÇÕES? / A CABEÇA GIRA / EM QUAL EIXO? / EM QUAL FOCO? / E ESTE SILÊNCIO DE PORTAL / QUE ME SUFOCA!

Paciência... O que mais posso ter? Alguém ergueria uma taça de vinho comigo? Preciso brindar Clarice Lispector pelo seu “Acabou de sair”, onde ela diz: “Sua enorme inteligência , aquele seu coração vazio de mim que precisa que eu seja admirável para poder me admirar. Minha grande altivez: prefiro ser achada na rua. Do que neste fictício palácio onde não me acharão porque – mando dizer que não estou, “ela acabou de sair”.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 12/02/2009
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