FLASH GORDON
 
 
     Tudo no cinema era repleto de magia! A começar pelas bilheterias, que no começo eram altas, quase inacessíveis, a escadaria da entrada, de cortinas aveludadas, com uma moça ou um rapaz, às vezes, a pegar os ingressos, as poltronas, de madeira, o apagar das luzes, o abrir das cortinas, com uma música de banda – marcha militar -, e aquela telona, imensa, do tamanho do mundo que ela mostrava!
 
     Esse era o meu cinema – o Cine Theatro Santana!, o templo sagrado do prazer, da minha infância e juventude, a minha primeira escola de letras e de palavras, um mundo que fazia rir e também às vezes, fazia chorar...
 
     No começo, pequeno ainda, só freqüentava as matinês de domingo, a ver filmes, geralmente de Tarzan ou de faroeste – Durango Kid, Charles Starrett, Randolph Scott, e depois o tão aguardado, comentado, sonhado, ansiado – seriado do Flash Gordon – uma aventura espacial, nos mundos da lua, do rei Ming, e seus malefícios!
 
     Dentro da sala escura, um silêncio sepulcral! Todos sabíamos que naquela sala escura era só para ouvir e ver! E então ficávamos muitas vezes agoniados, e até parecendo que vivíamos as aflições, os apuros e as vitórias do Herói e da sua bela heroína Dale!
 
     O tempo dedicado ao seriado – que ficava para o final – após o filme – era um pouco mais ou menos de meia hora, e ele sempre parava numa cena de suspense, onde o herói estava encrencado e até parecia que não tinha jeito de escapar.
 
     Mas bastava chegar o próximo domingo e então na continuação, a gente via que, não se sabe, se por magia, ou outro encantamento qualquer, o herói se safava e novamente, para nossa alegria, estava livre das garras tenebrosas do rei Ming, o Imperador da Lua!

    
(in "Sant'Anna dos Olhos D'Água" - Crônicas)

                         Vinhedo, 12 de setembro de 2008.