QUEM VAI PARA O INFERNO
A Religião quase sempre é assunto bastante polêmico, principalmente quando os atores das dicussões defendem suas verdades absolutas, assim ao longo da história o tema vai se transformando de acordo com a necessidade de afirmação do poder. Foram Cruzadas de objetivos duvidosos, Papas fazendo acordos com as elites escravagistas e até com o Fascismo em seus tratados de Latrão, que se rimar não é nem um pouquinho pecado. Vem Lutero acoitando o massacre aos camponeses, e a guerra entre Judeus e Palestinos que não se acaba,milhares de mortos em nome de um fanatismo que impõe regras, conceitos e préconceitos. O motivo de tudo isto é o Reino dos Céus, já que descer para as caldeiras borbulhantes do senhor Lucifer ninguém quer, e quando os filmes mostram aquele diabo personalisado com cara de bode e chifres de alce, é que aumenta ainda mais a busca pela fé ordinária, mãos se agarram aos terços e vão em busca de salvar a alma. Fiz este rodeio para chegar ao assunto principal :uma discussão que presenciei entre um Padre, um Pastor e um Bêbado numa linda manhã de domingo na Praça da Matriz de Nossa Senhora e São José. Os dois primeiros estavam bem vestidos, penteados de pé frente ao outro. O terceiro estava sujo, descabelado de roupas rasgadas e deitado no chão abaixo dos dois. Eu lia descontraído o best-seler de Umberto Eco: O Nome da Rosa, sentado em um banco que costuma ser refúgio de alguns senhores da melhor idade. De repente o Pastor chama o bêbado e pergunta se ele quer mudar de vida, entregando-lhe um folheto e dizendo que Jesus queria salvá-lo e a salvação estava naquele endereço.O Padre tomou parte na conversa e disse que ele precisava de Jesus sim, mas lá na Igreja Católica.O Pastor tomou como ofensa e corou-se imediatamente, abriu a Bíblia e leu um versiculo do Apocalipse de João, o Bêbado ficou tão atordoado com os gafanhotos que enfiou a mão embaixo dos papéis que dormia sacou sua garrafa de pinga e deu um gole. O Padre não se conteve,e em tom elevado disse ao moço que esta prática o levaria a queimar no fogo do Inferno,que imediatamente na missa curar deste vício imundo. Deus estava lá para lhe ouvir as confissões,nota-se que neste momento muda a hierarquia celestial Jesus dá lugar ao Pai para obter enfase maior. O Pastor já dobrando a mas mangas da camisa como se precipitasse para a porrada, disse que se a Igreja Católica curasse vícios não tinha tanto cachaceiro dizendo que é católico. O bêbado passou um rabo de olho para o Pastor, enquanto o Padre lembra dos Missionários presos levando dinheiro do dízimo dos fiéis para o exterior.O Pastor levanta a cabeça em direção a grande cruz em frente a Praça e pergunta se ele não venderia uma lasquinha do instrumento que matou Cristo, em referência a Simonia.O Padre suspirou e limpou a garganta, coçou levemente no meio das nádegas, e deu um passo para trás, temendo alí um combate de vale tudo entre os representantes das maiores intituições do mundo, me levantei e fiquei assuntando, o bêbado sem noção atiçou fogo, dizendo que o mais homem de desse o primeiro sôco.Porém o Padre desdenhou e rezou baixinho,voltou as forças e perguntou ao Pastor se as multas pela histeria na hora das orações eram pagas pelo templo ou pelos fiéis? O Pastor deu um longo suspiro e respondeu que estava orando para que o Senhor tivesse misericordia e livra-se parte dos adoradores de santos do pulgatório, e tirasse a imagem da Santa Inquisição da cabeça de alguns. O Padre imediatamente retrucou dizendo que quanto mais longa a saia mais aberto está o fiofó, falando das irmãs evangélicas que usam tais vestimentas. O bêbado que até então ouvia com pacifismo levantou-se bambeando com cara de poucos amigos e vociferou :- acho mió ocês dicidi quem vai pús inferno cambôi de disgraça! e suverte de per de min ! Assim fechei meu livro e fui embora rindo da lição do bêbado. Os dois também se foram em silêncio.