Casei e Mudei
Quem é que nunca ouviu a resposta de que fulano “casou e mudou” ao perguntar por alguém que está meio sumido do mapa? Na minha meninice, quando ouvia essa frase, pensava que jamais iria querer me casar. Casar era sinônimo de desaparecer, nunca mais ver meus pais, irmãos e amigos.
Hoje, dentre as muitas formas de expressão para dizermos algo com outro sentido, essa é uma que não concordo. “Casar e mudar” deveria ser entendida como transformação. As pessoas se casam e não necessariamente vão para um lugar ignorado. As pessoas casam e se transformam. “- Sabe fulano? Casou e mudou –”, ou seja, fulano casou e não é o mesmo!
Conhece aqueles célebres finais de novela em que o casal protagonista finalmente se une com um lindo sorriso nos lábios e a promessa de “vamos ser felizes para sempre”? Que lindo, não? Ali terminaram todos os desencontros, todas as angústias e conflitos pessoais. A idéia que nos passa é que jamais teriam o menor problema na vida a dois, caso a trama tivesse continuidade. Nenhum iria jamais reclamar com o outro por ter puxado a coberta toda na noite fria, ou porque a tampa do vaso estava levantada de madrugada, quando cambaleante e tonta de sono ela acabou quase entalada no fundo do sanitário, nem ficar com vontade de poder atirar no Mar Morto o controle da televisão para que ele jamais o alcançasse em uma noite de sábado. Nem tampouco ele se irritaria por ela trocar oito vestidos antes de se decidir com qual ir ao cinema (caso ele já não tivesse encontrado o controle remoto da tv e estivesse dormindo sentado, a bem esclarecer).
Hão de concordar comigo aqueles que já se uniram as suas “almas complementares“ (um ente muito querido discorda da expressão “alma gêmea”, afirma ser utopia romântica). Apesar de todo amor e carinho que temos pelos nossos amados companheiros de jornada conjugal, não podemos tapar o sol com a peneira e afirmar que o casamento é um eterno mar de rosas. Os espinhos estão ali embaixo a nos espetar de vez em quando, alguns até necessitam ser retirados com muito cuidado após adentrarem em nosso corpo.
Tiramos nossos vestidos de noiva e a grinalda e eles tiram o terno e a gravata. Nos despojamos de toda a roupagem para darmos início a um processo de aprendizado e mudança, pois não existe convivência pacífica e harmoniosa se não nos dispusermos a uma transformação. Precisamos, no entanto, ter o cuidado para que essa transfiguração seja positiva, não nos tornando a madrasta da gata borralheira em lugar da Cinderela e pedir aos céus que eles não se tornem um sapo em lugar do belo príncipe.
“Se alguém perguntar por mim”, não "diz que fui por aí”. Diga que casei e mudei. Para melhor, bem melhor, assim espero!