Para o bom entendedor...
Desde os primórdios da história da humanidade, a língua tem sido utilizada como um poderoso instrumento de segregação social. Uma citação de Gabriela Mistral ilustra bem o poder exercido através do uso da linguagem: “Todo o país escravizado por outro ou outros países, tem na mão, enquanto souber ou puder conservar a própria língua, a chave da prisão onde jaz.”
Sabe-se que é através da língua que veiculamos pensamentos, sentimentos e ideologias. Tanto que quando, durante o uso da língua não nos fazemos entender pelo melhor amigo, usamos a expressão: “não estamos falando a mesma língua”. O que denota falta de entendimento, de consenso. A leitura implícita dessa expressão vai além do uso da língua propriamente dita ou verbalizada, denunciando sentimentos e visões contraditórias.
Babel é uma metáfora perfeita do caos estabelecido através do uso da língua. Remontando-se a história do Império Romano, também se percebe com nitidez a segregação e o preconceito estabelecidos entre os povos que o constituíram. Bárbaros, foram denominados os povos que não falavam o latim, língua tida como oficial e absoluta do Império. Há de buscar nos dicionários o significado do vocábulo “bárbaro”, para que se tenha a dimensão do poder de exclusão que o uso da linguagem vem semeando ao longo da história do homem.
O que não se pode conceber e aceitar, é que em pleno século 21, num mundo globalizado, onde a comunicação e a tecnologia são ferramentas essenciais ao desenvolvimento e difusão do conhecimento, a língua ainda represente o entrave para o crescimento intelectual e profissional do indivíduo.
A sociedade contemporânea, ou pós-moderna para alguns, trás o estigma do pluriculturalismo, a partilha do saber como patrimônio social, necessário ao desenvolvimento e progresso de uma comunidade, de uma região, de uma nação, do planeta... Para o bom entendedor sempre se fala a mesma língua, porque de forma idêntica verbalizam-se os sentimentos e as ideologias, indispensáveis para uma sociedade mais justa e humana.