VOLTA PARA O MAR, OFERENDA*!
 

Embora os princípios bíblicos considerem que homem é homem, mulher é mulher, e que a união de dois seres deve ser heterossexual; eu acho que cada pessoa tem o direito de escolher como, quando e onde vai sentir prazer.

Tenho ótimos amigos tanto hetero quanto homossexuais. Aprendi que os primeiros adoram contar piadas em que os homens são os garanhões e as mulheres são burras. Eu me divirto com eles, mas fico pensando com meus botões: “Burra é a mãe! Você não gosta de mulher não, sujeito?"

Já os homossexuais são formidáveis, sensíveis, críticos, têm bom gosto... Quando gostam de alguém são sinceros e quando odeiam é pra valer. Se algum dia você cair na antipatia de algum deles, é melhor sair de baixo, de cima, da direita, da esquerda ...pensando bem, é melhor mudar de planeta, porque eles sabem ser terríveis, quando querem ser.

Dessa forma, antes de eu prosseguir com essa crônica, estou deixando claro que, embora eu seja heterossexual e respeite a posição dos intolerantes; respeito todas as opções sexuais.

A história de hoje aconteceu com um dos meus amigos. Dele costumo ouvir “causos” sobre suas namoradas, seus “rolos”, suas escapadelas, suas traições.... O cara é fisioterapeuta, bonito, boa pinta, embora não seja nenhuma “Brastemp”.

Relatou-me que, certa tarde, ele lanchava no centro da cidade, quando sentiu sobre si o peso dos olhos de alguém. Sentindo-se incomodado, fez uma busca visual e identificou um sujeito moreno, saradão, uns trinta centímetros mais alto que ele, segurando perto dos lábios, um copo de refrigerante de modo bem peculiar: o dorso da mão totalmente virado para o lado do peito e o dedinho mínimo levantadinho.

Perturbado, meu amigo desviou o olhar e não acreditou no que vira. Estaria ele enganado? Confundira as coisas? Não! Ele percebera um misto de paixão e admiração naquele olhar meio “sampaku” (quando deixamos aparecer o branco da parte inferior dos olhos) e também o jeito afetado das mãos. Ocorre que nada disso combinava com os músculos do sujeito que o encarava.

Sem conseguir conter-se, ele levantou os olhos mais uma vez em busca de confirmação de suas suspeitas. Nesse momento, o grandalhão afastou os lábios do seu copo, passou a língua, sensualmente, sobre o lábio superior, fez um biquinho e jogou um beijinho, dando uma piscadela com o olho direito.

Meu amigo perdeu o prumo e o rumo. Olhou para os lados em busca de alguma moça, que, por ventura, estivesse atrás dele e para quem o assédio fosse dirigido, mas não havia ninguém.  Não havia mais nenhuma dúvida.

Seu coração disparou, a adrenalina jorrou e, sentindo medo, ele se preparava para correr dali, quando daquele corpanzil saiu uma voz melosa em sua direção: “Ei, gatinho, me espera! Eu preciso de seus serviços de massagista?”  


Meu amigo gelou, estancou e teve vontade de dizer-lhe que “massagista era a PQP”, mas suspirou, respirou fundo e gritou: VOLTA PARA O MAR, OFERENDA!!

Ri muito, não falei nada, mas acho que meu amigo não topou, porque teve medo de, depois, receber como recompensa uma dolorida “massagem” .
 
 
 
 
* “Volta para o mar, oferenda!” é uma expressão muito falada por Christian Pior, um humorista do Programa Pânico na TV, da Rede TV. O sentido é parecido com “Cai fora!”, “Larga do meu pé” ou “Volta para sua turma!”
 

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 11/02/2009
Reeditado em 31/03/2022
Código do texto: T1434138
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