Sobre o Zé e outros Josés

Quando conheci o Zé ele foi logo avisando: “Sr José, não! Me chame de Zé.” Demorei um pouco para me costumar ao tratamento informal, pois a boa educação dita que tratemos os senhores e senhoras com o devido respeito. Entretanto, na convivência do trabalho com o Sr. José, descobri um garotão sorridente e entusiasmado que faz jus ao apelido descontraído de Zé.

Com idade para ser senhor, mas com espírito de ser jovem, o Zé é dessas pessoas que com sua experiência de vida sabe tirar dela tudo o que há de bom e nos passa, quase sem querer, uma lição em cada pensamento que expressa. É um tipo raro de gente que nos faz crer no verdadeiro sentido do ser.

Sempre pronto a cumprir com excelência o seu trabalho, o Zé veio até mim outro dia muito bem apresentável, vestido em uma calça social cinza e uma camisa verde musgo. Foi quando tasquei-lhe a frase: “Tá bonito hoje, Zé!” Ao que ele respondeu com o característico sorriso e sem falsa modéstia: “ É assim que gosto de trabalhar”. Minutos depois encontrei o Zé no alto de uma escada, executando uma de suas tarefas de zelador. Olhei para o Zé bem vestido, com semblante de quem não precisa mostrar os dentes para sorrir, e pensei: “Está aí alguém movido pela paixão!” Basta alguns segundos de conversa com o Zé para descobrir que, ele não só ama o que faz como ama a vida e a si mesmo. Por ser assim, tudo o que faz sai bem feito.

Como é bom topar com gente deste tipo! Num mundo em que os valores estão invertidos e que carrancas sisudas e narizes empinados são as feições da maioria, pessoas como o Zé nos fazem crer que nem tudo está perdido.

Pessoas como o Zé são realmente difíceis de achar. O entusiasmo com que ele relata sua rotina de trabalho e o brilho que foge dos seus olhos quando se prontifica a atender um pedido, são raridades num cenário de profissionais empurrados pela necessidade ou pela falta de opção. Outro dia, no meio de uma conversa extra-profissional , ele me revelou o segredo para lidar com as partes desgostosas do trabalho: “ As coisas boas e ruins entram por aqui ( apontou com o indicador para a orelha direita), mas a minha mente só guarda as boas. O resto saí por aqui ( apontou com o indicador da outra mão para a orelha esquerda)”.

Não sei muito sobre a vida do Zé,mas posso apostar que ele não mora numa mansão ou num apartamento de luxo, não tem carrão, nem TV de plasma, não veste Armani ou Hugo Boss. Não sei quanto ele estudou, mas arrisco dizer que ele não possui mestrado ou doutorado. Pessoas deste tipo não precisam de nada disto, sem luxo e com pouca instrução dão um banho em muita gente na matéria de viver e conviver.

Num mundo cheio de Josés, espero que você conheça um Zé destes que acabei de descrever. Além de tudo é um leitor assíduo e, (num caso de recíproca verdadeira) diz ele, que virou meu fã.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 11/02/2009
Reeditado em 11/02/2009
Código do texto: T1433481