QUEM MATA UM CÃO...

Todos que habitamos esse Planeta, seres viventes, formamos uma só espécie: somos terráqueos. E isso inclui não só os humanos, mas também os animais que coexistem em nosso meio. O direito à vida é tanto deles quanto nosso. A mesma fome que é capaz de afligir um humano, também aflige a um cão. A mesma dor que pode ser causada a um gato, também a sente uma criança. Para muitas pessoas (inclusive eu), um animal de estimação que conviva em nosso lar é parte integrante de nossa família.

Portanto, repudio imensurávelmente tantos casos registrados nos últimos dias de animais domésticos assassinados por envenenamento. Pense por um segundo: imagine que aquele cão ou gato que você tanto gosta e convive e tanta felicidade traz para ti seja atraído por algum tipo de alimento jogado no pátio? Um alimento que esconde uma vil traição que só mentes sórdidamente humanas seriam capazes de conceber: algum tipo de veneno letal. E, assim, atraído por seu instinto natural de sobrevivência (o de se alimentar), o seu animal ruma à morte certa, através da destruição de seu sistema orgânico, matando-o por dentro, impondo-lhe um sofrimento além do que seja capaz de suportar.

Meus amigos: quem mata um cão ou um gato, acaso não mataria um homem?

Qual a diferença psicologicamente falando, de alguém que mate pessoas para aquele que às escondidas saia pelas ruas a distribuir alimentos envenados pela vizinhança? Essa pessoa é capaz de mensurar a tristeza que se abate em cada família logo após o êxito de seu ato criminoso? Nunca tive um animalzinho que tivesse morrido envenenado, mas já testemunhei mais mortes de animais do que eu gostaria de ter visto, assim como perdi um animal querido por causa da maldade assassina. Algo que nada agrada. Algo que nos coloca impotentes diante da maldade que faz parte da natureza de tantos seres humanos.

Tais pessoas seriam capazes de amar verdadeiramente? Aliás, verdadeiramente essas pessoas saberiam o que realmente significa o ato de amar? Não digo amar da boca para fora, quando se diz para a sua própria mulher ou ao seu próprio filho porque penso que amar a própria mulher e ao próprio filho é algo natural para um pai de família por exemplo e nisso não há nada de espetacular ou divino. É uma mera obrigação. Refiro-me a um tipo de amor ainda mais sublime: o de amar também aos filhos dos outros, às famílias dos outros, a todos os outros seres viventes. E compreender que a dor que aflige a qualquer outro ser humano, poderia ser a nossa própria. É um tipo de amor cada vez mais raro em nossa sociedade e que só existe no coração de pessoas que realmente compreendem que a sua estadia neste planeta é transitória.

E que a vida que temos, em verdade, não nos pertence. Tampouco nos pertence a vida de outros. Quando vejo pessoas como a Marisa Minussi, querida amiga e conselheira tutelar, chorando a morte de seu cachorro de estimação, algo se revira em meu peito. É um misto de dor e de nojo de mim mesmo como ser humano. É uma vergonha por pertencer a uma raça que não respeita o seu próprio semelhante e não se importa com a dor que é causada a um animal ou a uma criança ou a uma mulher ou a um homem. E que tão longe estamos de evoluir, porque a humanidade não pode evoluir individualmente e, sim, coletivamente.

Por que temos tantas pessoas que acreditam serem mais especiais diante da vida? Por que temos tantas pessoas que se incomodam com a felicidade dos outros? Acaso, a vida do homem é tão mais importante que a vida dos outros seres que também ganharam o direito a vida, através de uma energia muito acima de nossa compreensão? Por que temos tantas pessoas incapazes de amar, sendo que elas próprias foram geradas a partir desta matéria misteriosa que compõe o universo inteiro e que não tem outro nome senão Amor?

Não sei nenhuma dessas respostas, apenas faço essas indagações. Não sei se tanto para o mundo, não sei se tanto para mim mesmo. Mas acredito firmemente que se nós, humanos, temos a possibilidade de "governar" esse planeta, é certo que os rumos que o colocamos é bastante equivocado. Além de destruir o próprio meio em que vivemos, destruímos aos nossos próprios semelhantes e construímos bombas e espalhamos vírus e jogamos venenos nos pátios da vizinhança.

O que é triste é que muitas dessas pessoas que fazem isso, são aquelas que ao final da tarde se põe a chimarrear em frente de suas casas, desfrutando da doce tranquilidade de não ter que ouvir um cachorro a mais latindo pela vizinhança. Talvez até lhe agrade ouvir o choro de algum criança ou testemunhar o triste semblante de algum vizinho. Talvez essa pessoa até se sinta orgulhosa. Talvez até ria por dentro. Quem mata um cão ou um gato, acaso não mataria um homem?

Márcio Brasil
Enviado por Márcio Brasil em 11/02/2009
Reeditado em 11/02/2009
Código do texto: T1433440
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