LÁ ONDE DEUS POSSA ME OUVIR

Eu fui cedinho à padaria e já estava lotada. Na minha vez da filha eu era “o próximo”, gritou o caixa. Daí a pouco tive que pagar umas contas, ir aos correios e outras coisas. No banco eu era o numero 59 da senha, no correio a luzinha me chamou pelo 83. Quando eu chego em casa, minha mulher não se agüentando de dor de cabeça e vamos nós para o pronto socorro. Lá, era não só eu, mas nós dois, uma senha única: a 14 Normal. Disseram que uma dor de cabeça não era urgente.

- Nem se estiver latejando muito a ponto de não suportar luz e barulho?

- Só se estiver desfalecida ou chegar de Samu ou viatura da polícia...

Bom, nada grave e deu tempo de atender a um chamado da Receita Federal, onde sou o Contribuinte, identificado pelo meu CPF. No banco sou correntista, no consultório, o paciente, na fila, impaciente. No marketing sou consumidor, réu da vida que me põe tanto rótulo.

Tenho saudade de quando o mundo era grande. A gente era igual gente de verdade. Vinha uma informação lá do outro lado do mar e diziam que o nome da pessoa que era fulano de tal. Agora, é a vítima, o transeunte que foi atropelado, o usuário cadastrado, o morador do 101. Só tem nome com direito a figurar para todo lado as celebridades. Até aquelas de quinze minutos.

Lá onde Deus pode me ouvir é que sou gente mesmo.

(Publicado originalmente em meu blog com o título de Exilado)

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 11/02/2009
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