PASSEANDO EM BUENOS AIRES

Eu e minha esposa, como usualmente gostamos de fazer quando viajamos, passeamos de mãos dadas pelas ruas de Buenos Aires olhando as vitrines, os cafés com cadeiras nas calçadas, o movimento das ruas, que lá são retas e quase incomensuráveis, enfim, desfrutamos o máximo possível as novidades próprias de um país diferente do nosso. Visitamos os mais relevantes pontos turísticos daquela linda capital portenha, estivemos em alguns dos principais restaurantes normalmente visitados por turistas, como o Siga La Vaca, fomos ao bairro Caminito e lá compramos diversas lembrancinhas artesanais, nos deslumbramos com o bairro Recoleta e tiramos mil fotos por onde andávamos. Coisas normais para casais em viagem. Quando, de certa feita, resolvemos passear de metrô, que los hermanos argentinos chamam de subte, não passamos o sufoco linguístico esperado, embora no princípio não tenha sido tão fácil assim. Mormente porque outras pessoas queriam comprar passagens e tinham pressa. Afinal de contas, o metrô não espera por ninguém. Depois, resolvido o problema da compra das passagens, começou outra batalha para saber onde ficava a parada à qual nos dirigíamos. Mas também isso não nos atrapalhou, porque o que não sabíamos nós perguntávamos e as pessoas nos orientavam com a maior gentileza. Assim foi o tempo todo. Além disso, percebemos que havia um mapa das paradas em vários locais da parte interna do metrô, além de um anúncio luminoso onde ia aparecendo o nome de cada uma delas.

Em sendo assim, andar pela cidade não foi tão difícil evidentemente. É certo que não falo bem o idioma espanhol, apenas o arranho razoavelmente. Contudo, arrranhava no castelhano, adentrava o portunhol e conversava em inglês quando necessário. Como no momento em que estávamos na Galeria Pacífico, famoso e suntuoso local de encontro tanto de turistas quanto de argentinos situado bem ali nas proximidades da Rua Florida, uma senhora da Malásia achegou-se a mim e perguntou, na língua do Tio Sam, onde minha esposa tinha comprado a bolsa que usava naquele instante. Respondi-lhe e ela perguntou-nos de onde éramos, demonstrando ter ficado muito feliz por sermos brasileiros porque gostava muito do carnaval do Rio de Janeiro, afirmou toda sorridente. Disse-nos, por fim, que vinha da Malásia e estava descobrindo as belezas da terra de Carlos Gardel. Foi preciso eu tirar da algibeira os meus tímidos conhecimentos de inglês para acompanhá-la nesse diálogo súbito e inesperado.

Algo dissonante nessa viagem especial à terra portenha foi a quase ininterrupta fumaça de cigarro que parece pairar sobre Buenos Aires o tempo todo. Práticamente, pelo que, assustado, pude comprovar, lá todos fumam e sobre as ruas por onde passamos, em especial as mais movimentadas, se fornam nuvens de ameaçadora toxicidade a deslizar sobre quem vai ou vem e se torna um fumante passivo. Jovens, adultos e idosos ostentavam cigarros nos dedos e sugavam a fumacinha mortífera como se estivessem sorvendo o mais puro dos néctares. Depois, satisfeitos, jogavam-na no ar que respirávamos e tudo em derredor se transformava em nicotina espalhando pelo espaço o seu insuportável odor característico. Um sufoco! Tanto era o turbilhão de fumaça por metro cúbico a começar cedinho em cada amanhecer, que tão-logo saíamos do hotel bem pelas nove horas, bastava colocar a cabeça fora e já o irritante odor dos cigarros impedia-me de respirar como se houvesse fogo na cidade. Assemelhava-se a um denso nevoeiro engolindo as pessoas. Como sou alérgico a isso, imediatamente começava a intermitente dor de cabeça a perseguir-me o dia inteiro, ficando o mau cheiro forte do cigarro em todos os meus poros, nos cabelos, na roupa, no corpo inteiro.
Essa foi, infelizmente, a nota meio desafinada da viagem. Afora isso, Buenos Aires é linda e seu povo muito amável, prestativo e gentil. Pena que fume em demasia.
Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 11/02/2009
Reeditado em 11/02/2009
Código do texto: T1432803
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