ENGOLIR LAMBARI
Ia para lá com meu irmão. Eu deveria ter uns seis anos e ele quatro anos mais velho que eu. O poço era uma maravilha, mas como não sabia nadar, eu só ficava lá tomando conta das roupas dos moleques e, de guarda, para dar o grito no caso de aparecer o dono, que volta e meia, levava as roupas, fazendo com que a molecada voltasse para casa, vestida de Adão.
E ali, enquanto a turma nadava, dava pontas, mergulhava, eu ficava sonhando em aprender a nadar, e para isto tinha que, religiosamente, engolir pequenos lambaris, que pegávamos com uma peneirinha, nos pequenos regos que mourejavam naqueles brejos.
O poção, entancado com pedaços de troncos de árvores, galhos e embiras, ficava parecendo uma pequena lagoa funda, e no barranco a turma improvisava um escorregador, jogando bastante água no barro, que ficava divertidamente escorregadio.
E era uma delícia! Brincadeiras e mais brincadeiras, naquele paraíso mágico de minha infância. Havia de tudo também: moleques, árvores, cipós – para brincar de tarzan - pássaros, natureza e muita felicidade-criança no coração.
A minha única preocupação era aprender a nadar e, para isto tinha que, toda vez, ou quase todos os dias, pegar os peixes para engoli-los vivos.
E o tempo ia passando, eu engolindo lambaris e nada de aprender a nadar. Vez por outra, o dono daquelas terras aparecia, e, então, saía moleque correndo para todos os lados, enquanto o homem corria atrás, mas, sem êxito de pegar algum moleque, que se refugiavam na mata que ficava nas cercanias. Eu acho que também não era intenção dele pegar um moleque que seja. Era apenas para assustar a molecada, que ficávamos à espreita, esperando que ele se fosse, para voltarmos ao poço das delícias.
Foi assim, que um dia ensolarado de primavera, meu irmão, teve o impulso de atirar-me dentro daquele poço fundo. Bebendo água, me afundando, batendo os braços, consegui, com muito esforço me agarrar ao barranco e sair, engasgado, assustado, pelado e, ao mesmo tempo alegre, por haver aprendido a nadar, depois de longa demora e de muita vontade.
Conseqüentemente, o aprendizado brota da necessidade, que deve estar sempre aliada ao interesse e à motivação, pois tornei-me um grande nadador de córregos, riachos e ribeirões, por todo aquele meu reino dourado de Sant’Anna dos Olhos D’Água.
(in “Sant’Anna dos Olhos D’Água” – Crônicas)
Vinhedo, 20 de agosto de 2008.
Ia para lá com meu irmão. Eu deveria ter uns seis anos e ele quatro anos mais velho que eu. O poço era uma maravilha, mas como não sabia nadar, eu só ficava lá tomando conta das roupas dos moleques e, de guarda, para dar o grito no caso de aparecer o dono, que volta e meia, levava as roupas, fazendo com que a molecada voltasse para casa, vestida de Adão.
E ali, enquanto a turma nadava, dava pontas, mergulhava, eu ficava sonhando em aprender a nadar, e para isto tinha que, religiosamente, engolir pequenos lambaris, que pegávamos com uma peneirinha, nos pequenos regos que mourejavam naqueles brejos.
O poção, entancado com pedaços de troncos de árvores, galhos e embiras, ficava parecendo uma pequena lagoa funda, e no barranco a turma improvisava um escorregador, jogando bastante água no barro, que ficava divertidamente escorregadio.
E era uma delícia! Brincadeiras e mais brincadeiras, naquele paraíso mágico de minha infância. Havia de tudo também: moleques, árvores, cipós – para brincar de tarzan - pássaros, natureza e muita felicidade-criança no coração.
A minha única preocupação era aprender a nadar e, para isto tinha que, toda vez, ou quase todos os dias, pegar os peixes para engoli-los vivos.
E o tempo ia passando, eu engolindo lambaris e nada de aprender a nadar. Vez por outra, o dono daquelas terras aparecia, e, então, saía moleque correndo para todos os lados, enquanto o homem corria atrás, mas, sem êxito de pegar algum moleque, que se refugiavam na mata que ficava nas cercanias. Eu acho que também não era intenção dele pegar um moleque que seja. Era apenas para assustar a molecada, que ficávamos à espreita, esperando que ele se fosse, para voltarmos ao poço das delícias.
Foi assim, que um dia ensolarado de primavera, meu irmão, teve o impulso de atirar-me dentro daquele poço fundo. Bebendo água, me afundando, batendo os braços, consegui, com muito esforço me agarrar ao barranco e sair, engasgado, assustado, pelado e, ao mesmo tempo alegre, por haver aprendido a nadar, depois de longa demora e de muita vontade.
Conseqüentemente, o aprendizado brota da necessidade, que deve estar sempre aliada ao interesse e à motivação, pois tornei-me um grande nadador de córregos, riachos e ribeirões, por todo aquele meu reino dourado de Sant’Anna dos Olhos D’Água.
(in “Sant’Anna dos Olhos D’Água” – Crônicas)
Vinhedo, 20 de agosto de 2008.