Rotina...

Ônibus, ônibus, ônibus. Todo dia a mesma coisa. E olha que não me refiro a quantidade de pessoas, mas aquele burburinho das velhas desgostosas com a vida e dos senhores bravos com as esposas que ficaram assexuadas graças ao tempo. A cada abertura da porta três, entrada dos novos passageiros, aquela montoeira de gente (eu no meio delas) e os berros. “Pow, porque não vai mais pra frente”, diz o senhor, aparentemente cego, pois não enxerga a barreira humana a sua frente. Do lado do velho bravo, a tia gordinha, com cara amarrada e uma bolsa de camelô, prestes a agarrar o primeiro menino que encostar em sua pancinha. Sabe, acho que o povo não entende que não adianta reclamar com o colega do lado. O vendedor da direita não vai melhorar a situação. A estudante do colégio público não é culpada da lotação. Poxa, nessa hora de aperto, literalmente, o que mais vale é a educação. Tudo ficaria melhor se todos calassem a boca, colocassem o fone no ouvido ou dormissem. Olha, até as pessoas em pé podem dormir e sonhar um pouco. Você não precisa segurar em nada, pois há corpos ocupando cada milímetro do espaço, e a quantidade de “travesseiros”, cabelos grandes, fofinhos, com cachinhos negros cheirando a seda ceramidas, são ótimos encostos.

Lucas Marins
Enviado por Lucas Marins em 10/02/2009
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