CARÊNCIAS
Estamos vivendo era da carência. A material já é sentida há muito tempo. Como não vivemos só de comer e dormir e trabalhar, outras carências vão se acumulando e se manifestando das mais diversas formas. Especialmente aquelas que atingem o nosso mais profundo sentimento: o de estar no mundo. Acabam se materializando em ações ou reações inimagináveis.
Daria um tratado de filosofia, outro de sociologia, outro de psicologia relatar tudo que decorre das carências humanas. Mas não é esse o meu propósito nem minha capacidade. Quero, portanto falar de uma carência que, talvez, seja das mais urgentes para a sanidade da alma e do corpo: ouvir. Todos necessitamos ser ouvidos. Para tanto precisamos aprender a ouvir. Primeiro ouvir a si mesmo, o coração e a mente. Depois ouvir o outro.
Já reparou o leitor os diálogos atualmente como se estabelecem? Se é que podemos chamar de diálogos, eu chamaria a maior parte das conversas, de diálogos de surdos. Fala-se, fala-se, fala-se. Escuta-se muito, mas não se ouve. Ouvir requer estabelecer comunicação. Mas as carências são tão grandes que colocamos em primeiro lugar as nossas necessidades. Como o outro também é portador de muitas necessidades, ninguém ouve, apenas escuta. O cabedal de informações disponíveis e a rapidez com que nos são apresentadas, mais a soma de nossas carências, não abrem espaço para o tempo que deveríamos ter para transformar tudo em formação. Essa sim, é que proporciona ou permite-nos desenvolver a capacidade de ouvir. E faz um bem enorme para a alma, para o encontro de nosso lugar no mundo e como conseqüência para as nossas relações com as pessoas e das pessoas conosco.