JÁ É CARNAVAL CIDADE...

“Quero que o fato de ter uma vida prática e sensata não me roube o direito ao desatino. Que eu nunca aceite a idéia de que a maturidade exige um certo conformismo. Que eu não tenha medo nem vergonha de ainda desejar.” MARTA MEDEIROS

Faz um tempinho e fiz uma proposta a Momo, o grande rei da esculhambação: “Decifra-me ou devoro-te!” Ele nem ligou, já que eu não era a Esfinge, só uma noiva mascarada, vestida de saiote rosa choque, grinalda prateada e véus multicoloridos.

Brincadeiras à parte, trago dos tempos de estudante que fazia teatro, o gosto por vestir personagens. Embora minha trupe trabalhasse basicamente com manipulação de bonecos, quase sempre era eu a contracenar com eles, a viver quase todos os personagens (meio) humanos dos espetáculos.

Como me desliguei do teatro já há bastante tempo, aproveito o período carnavalesco para viver alguns personagens, embora sem o encanto das coxias, das luzes e da platéia de um teatro, ou mesmo de um cenário improvisado, numa praça.

Maceió não tem carnaval na data oficial. Neste período, os moradores que gostam de opções mais tranquilas vão brincar e veranear em cidades próximas e os foliões se mudam para Olinda, Recife ou Salvador. Mas já há algum tempo, a cidade se mobiliza em função de prévias, bailes de máscaras e blocos de rua. Dizem alguns mais velhos que tudo parece voltar no tempo.

Nem preciso dizer o quanto gosto desse clima nostálgico. E de viver um personagem. Vários personagens. É como entrar no túnel do tempo: pierrôs, colombinas, arlequins, mascarados e mascaradas, chuvas de confete e serpentina e todos cantando ”vou beijar-te agora não me leve a mal, hoje é carnaval” ... "Oh, jardineira por que estás tão triste...”

Propositadamente escolho tirar férias nesse período. É a chance de ter um tempinho a mais para estar com os SERESTEIROS DA PITANGUINHA, tirar do baú um repertório de canções que relembram um carnaval que não existe mais, a não ser nas lembranças de quem os viveu.

E quanto a Momo, sempre faz vista grossa se saio de bruxa, de noiva, de “Menina do Jaraguá”, de borboleta, de vedete...ou de camiseta de bloco. Quer mais é que eu vá botar meu bloco na rua, que cante e diga que bela é bela, que meu coração amanheceu pegando fogo... pois sabe que nem tudo acaba na quarta-feira...

E mesmo que daqui a alguns dias esteja no Pelourinho, no Campo Grande e /ou no circuito Barra/Ondina, os points do carnaval de Salvador, minha “alma de vedete” já se esbaldou o suficiente para não se importar em ser “mais um na multidão”. E quem sabe não troque tudo por um sorvete (ou vários) na Sorveteria da Ribeira?