MULTIPLICAÇÃO EVANGÉLICA
Acabei de assistir no jornal que em São Paulo, a cada dois dias, uma nova igreja evangélica abre as portas. Fiquei curioso e fui até à calculadora fazer alguns cálculos simples, vamos a eles:
São aproximadamente 180 igrejas novas por ano, em dez anos serão... O leitor já sabe.
Em dez anos teremos mais 1800 igrejas evangélicas, mais 1800 líderes com suas perspectivas próprias acerca das coisas de Deus e da verdade. Quantas interpretações podem ter um mesmo fenômeno? Será que o leitor consegue responder esta questão?
E não é difícil saber o porquê da proliferação das casas do Senhor. Legalmente, o candidato a Edir Macedo consegue a autorização para funcionar em 30 dias. Qualquer local pode servir de templo, uma garagem, um cômodo em casa, uma sobreloja, enfim, onde puder ajuntar um pouco de gente, pode ser espaço para os novos mensageiros da “boa nova do evangelho”.
Ainda falando sobre a falta de dificuldade em se abrir uma igreja, nota-se que o sucesso de grandes igrejas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus, a Renascer em Cristo, a Igreja da Graça, a Igreja Mundial de Deus, entre outras, inspira gente muito simples a fazerem de suas casas templos de Jesus.
Pensam estes pequenos pastores que rapidamente construirão fortunas como os ícones das igrejas citadas. Será que atingirão seus objetivos? Alguns certamente sim, porém a maioria está fadada, como qualquer outro negócio, à falência. Pois, logo que os fiéis perceberem o engodo a que estão sendo submetidos, deixaram o seu pastor e buscarão por outro mais eficiente.
O lado bom do crescimento exponencial dos “templinhos” é que sua extinção e descrédito também crescerão de forma muito rápida. Hoje muitas e muitas pessoas criticam frontalmente a banalidade que se tornou esse cristianismo do início do século XXI. O descrédito também é positivo porque será possível alguns mais vislumbrarem que também os grandes empresários do evangelho são grandes charlatões.
Ri muito, morri de rir, ao ver na televisão o pastor passar com uma cesta em forma de “biruta” na mão. Um tecido costurado em um aro de metal, tendo um taco de sinuca cortado como cabo, recolhendo as migalhas de seus mirrados fiéis. Poucos eram os que contribuíam, e mesmo assim as contribuições eram pequenas. Apenas notas de 1 real, 2 reais e moedas, para tristeza e decepção do pobre pastor.
Nada comparado aos conglomerados evangélicos que arrecadam quantidades astronômicas de dinheiro e inclusive possuem até mesmo máquinas de cartões de crédito e débito de todas as bandeiras possíveis. Visa, Mastercard, American Express, Dinner's, Hipercard, etc...
Quanto mais penso que o esculacho que a religião cristã podia atingir já foi atingido, mais me impressiono com sua capacidade de a cada dia se tornar mais decadente e desacreditada.
Ao fim da reportagem na TV, apareceu a cena mais legal. O repórter entrevistou um fiel de uma pequena igreja e este falou algumas coisas, mas quando o repórter fez uma pergunta que desagradou a “pastora” esta gritou:
“Não isso, não”
“Ele não pode falar?” Perguntou o repórter.
“Não, não. Isso não.”
Então o fiel se calou e obedeceu a ordem de sua pastora.
Esse é o retrato do cristianismo brasileiro do século XXI.