Sombrinha
Ela cruzou o enorme corredor que levava até a saída. Quando se aproximou da primeira janela, confirmou o que já suspeitava. Chovia. Um sorriso solitário escapou por seus lábios e imediatamente ela enfiou a sombrinha dentro da bolsa. Ela não poderia perder essa oportunidade. Continuou até o pequeno saguão, agora, com um pouco mais de calma, precisava apreciar cada segundo. O saguão estava apinhado de gente esperando a chuva passar. Convictas de que não adiantava preocupar-se, reclamava da chuva em hora inapropriada.
Quando chegou ao saguão, ela percebeu o quanto aquele lugar era bom para apreciar uma bela chuva. Não havia paredes e nem porta que separassem as pessoas que esperavam da chuva que caía, havia apenas um vão que fazia entrar um ventinho fresco e um cheiro molhado e inconfundível de chuva.
A mulher desceu uma pequena rampa e juntou-se às pessoas. Todas resmungavam sem parar e ela não pôde deixar de juntar-se àquilo. Reclamou também, resmungou e amaldiçoou a chuva desaforada, mas no fundo, aliás, nem tão fundo assim, ela estava sorrindo. Falou que seu carro estava longe demais, que iria atrasar-se para a academia, que seus sapatos eram novos e não poderiam molhar, que havia ido ao cabeleireiro e feito um tratamento caríssimo e que em hipótese alguma poderia ter chovido numa hora daquelas. Todos ao redor dela ficaram compadecidos do enorme transtorno que aquela chuva trouxera para ela, alguns até ofereceram algum tipo de ajuda, mas nenhuma convenceu a mulher. A chuva, por sua vez, parecia não se importar com os reclamões e continuava caindo, como se nada estivesse acontecendo.
A mulher diminuiu as reclamações, ou melhor, todos diminuíram, depois de algum tempo estavam todos calados, talvez, hipnotizados pelo tamborilar da chuva. Era essa a deixa que a mulher esperava. Ela sentou-se em um banco e dobrou as barras da calça, conferiu se a bolsa estava bem fechada e quando ninguém estava olhando, saiu do saguão, simplesmente correndo na chuva e na direção de seu carro, que realmente estava do outro lado do estacionamento. Enquanto corria, ela gargalhava e até arriscou um ou dois pulinhos em uma enorme poça. Na metade do caminho, deu uma olhadinha para trás, as pessoas continuavam lá, esperando e, naquele momento, deviam estar todas boquiabertas. Ela continuou até o carro, quando chegou, estava completamente ensopada e sua sombrinha, por sua vez, completamente seca em sua bolsa. A sombrinha estava seca, mas, ao contrário dela, não havia brincado na chuva.
Nota: Este texto é o cumprimento de uma promessa feita a minha professora de linguística, Luisa. E, portanto, foi escrito para ela =D