O Correr

Sinto-me imensamente alegre no correr. Alegro-me de maneira única, quando passo pelos lugares de forma lépida e direta, como se o tempo o fosse cada vez mais rápido e não tardasse na demora constante da evolução. É como se ele de uma forma miraculosa transfigurasse direto do turvo ao alvo; e vou-me neste quase transe do perpassar pelos lugares, no ver deles se aproximarem tímidos e no mesmo instante darem um adeus ligeiro, no volver do meu rosto no pobre querer de guardá-los se indo na paisagem.

A respiração por vezes ofegante transmite todo o sentir do corpo direto a mente, posto ele se encontra no querer constante do seu combustível magnífico, o ar. E ele rapidamente adentra o corpo, se direciona aos pulmões no dar o calor necessário para fazer esse motor sublime feito de energia o impulso de dar cada passo, e outro, e outro...

O coração pulsa, e em verdade não mais bate, ele plange de forma pungente as suas contrações no levar e trazer do fluido rubro, culpado não do entorpecimento, mas sim no abastecer do oxigênio pudico para todos os órgãos do corpo.

Ah o corpo, reagindo de jeito universal ao universo à sua volta, rodeado pelo ar da vida, cingindo-o como uma vela cortante de veleiro, no poder chegar do lugar predestinado; e este pode ser qualquer um o qual o vigor o puder levar. Desde a vida aos órgãos exauridos por doença cruciante, até o correr do seu próprio resguardar; fugindo, escapando de um perigo o qual o persegue. Ou o ser corre para escapar de um mal doloso, ou para levar diretamente ao seu corpo, não apenas o sentido da vida, contudo o viver em si; o sentir, da brisa trespassando o seu rosto, o amar o gosto de somente poder ter a chance dum respirar profundo e repleto de todo o candor; e do expirar repleto de emoção, repleto de propriedade.

E vou-me neste correr, atravessando o tempo de maneira a tocá-lo, observando-o e podendo ter a honra de fazer parte do cenário, do indescritível viver.