Nós merecemos o Oscar!

Em tempo de Oscar, não poderia deixar de registrar a minha indicação.

Reconheço que o Brasil com seu enredo sobrenatural, deliberadamente terrorista, nenhum um pouco fictício, nada romântico, mas cheio de aventura (não podemos negar), seria um forte candidato ao título no gênero tragicomédia.

Sem exagero, investir num sonho neste país é realmente ser artista e arriscar-se na corda bamba sem colchão embaixo para amortecer a queda, caso ela ocorra. E elas não têm sido poucas. Somos acrobatas tentando nos equilibrar sobre um sistema político e social capenga e injusto.

Aquela historinha bonita que conta que fazendo a coisa certa, com amor e dedicação, um dia a recompensa chega... É pura comédia! Somos nós, os profissionais de carne e osso e diplomas engavetados que damos a essa história( pra boi dormir ) o efeito real. Trabalhamos incansavelmente para garantir a este país a fama de um povo que acredita e por isso nunca desiste. Somos kamikazes sem dublê nos expondo a quedas e explosões heroicamente. Sem cachê.

O povão, que nem sequer sonha em estudar, pois precisa trabalhar para sobreviver, é mero figurante. Apesar de fazer um grande volume e dar certa dramaticidade às cenas. O glamour e o brilhantismo estão mesmo é no “cast” dos protagonistas, composto por deputados e senadores que vêem seus nomes rolarem na tela em letras garrafais. A maioria incompetente, mas com muito talento (devemos admitir) para ganhar e administrar um cachê milionário.

O roteiro brasileiro parece mais uma adaptação da série LOST. Cheia de suspense, mistério, armadilhas, tragédias. Mocinhos e mocinhas corajosas lutando para sairem ilesos contra algo que, por não saberem o que é, não sabem que armas utilizarem para se defender. Sem previsão de desfecho, a trama se arrasta por anos a fio.

Não sei você, mas eu trabalhadora brasileira (com diplomas na gaveta), escritora, mulher, cidadã eleitora, há algum tempo venho sentindo a sensação de ser uma atriz desta pornochanchada política. Num estilo Marylin Monroe, mas com salário de Gretchen. Com a agravante de ter assinado um contrato por tempo indeterminado, sem direito à desistência ou transferência para Hollywood.

Que toda esta atuação me renda, no mínimo, uma estatueta de Melhores Efeitos Profissionais, para que (com lágrimas nos olhos) eu possa agradecer aos professores queridos, que muito me ensinaram, mas esqueceram de dizer que ter competência neste país, é pura ficção.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 07/02/2009
Reeditado em 07/02/2009
Código do texto: T1426649