Eu, em poucas palavras...

Eu nasci em 24 de novembro de 1961. Era uma quinta-feira. O parto foi vaginal, ou normal como queiram. Foi assistido por Dr. Acilon Gonçalves. O único médico de toda a região. Depois este médico, como era de costume naquele tempo, tornou-se meu padrinho. Deve ter sido um grande sofrimento prá minha amada mãe o meu nascimento. Minha cabeça era muito grande. E bota grande nisso. Levei muito pesqueiro por isso. Mas no Nordeste cabeça grande é sinal de inteligência e isso me confortava. Quando criança eu era meio zambeta. Perece que o tempo consertou.

No início da vida conjugal de meus pais a gente morava na fazenda Cabrito, propriedade de meu avô Zeca Vigário e Dona Toínha. Todos os netos chamavam-lhes carinhosamente de “Pai Véi” e “Mãe Véa”. Ele era um camarada sisudo, sujeito de poucas palavras e muito sincero. Seus negócios eram “prego batido e ponta virada”. Era muito difícil vê-lo enfezado, mas quando se zangava tínhamos que sair de perto. Ela, minha avó, era comunicativa e portadora de amor imenso pelos seus netos, mas é claro que tinha suas preferências. Quando ela ficava ribinguda era salutar tomar um pouco de lonjura. Emprestou-me muitos vinténs, e certamente alguns eu não a restituí.

Meus avôs maternos eram Chico Cândido e Dona Saraiva. Meu avô Chico Cândido, do Sítio Pavão, era tido em sua época como um dos aurorenses mais inteligentes. Ouvia muito o rádio. Assim adquiria muito conhecimento. Era muito culto. Sofria de Doença de Parkinson. Já o conheci velhinho e não tenho muito que falar sobre sua pessoa. Minha avó Saraiva, por sua vez, era muito amiga. Defendia seus princípios com galhardia e coragem. Eu a conheci muito bem.

Minha Família é um verdadeiro samba do criolo doido. É uma mistura danada. Campos, Ribeiro, Saraiva, Santos, Batista, Macêdo, Leite, Landim, Alves, Cruz, Santana, Olegário, essa cambada todinha são meus parentes quer queiram quer não. Uma “muvuca” acertadamente diria Regina Casé. Com muita honra e sem falsa modéstia, eu faço parte da melhor estirpe do Ceará. Eu fui sovada nas entranhas de Maria Saraiva de Macêdo ou simplesmente dona Conceição. Por mais ou menos nove meses estava eu lá no seu ventre botando o maior boneco. Na barriga eu já era “bunequeiro”. O outro responsável direto foi seu Januário Antônio de Macêdo ou seu Vigário ou ainda Vigário Macêdo.

Dona Conceição é uma mulher sofrida, impetuosa, e carinhosa à sua maneira. Imensamente maravilhosa. Mas se bulir com ela recebe o troco em cima da bucha. Seu tipo de preocupação com seus rebentos é diferente. Quando criança eu fiz muita estripulia. Por lhe fazer tanta raiva, na minha infância, levei muitas chineladas, cipoadas e alguns cocorotes. Já seu Vigário era um pai arretado. Este era cabra macho. Não mandava recado. Muito liberal. Deixava correr frouxo um pouco. Não media esforços para agradar um filho. Se fosse necessário usava de todos os artifícios necessários para acarinhar-nos. Porém este carinho era à distância. Mas se fosse necessário, ameaçava fazer o chicote roncar. Era excessivamente meu amigo. Sinto muito sua ausência.

Nasci em Aurora. Localiza-se no Cariri, região sul do estado do Ceará. Tem um pouco mais de 35 mil habitantes. Fica à margem esquerda do Rio Salgado. Fui embora de lá muito cedo. Na minha adolescência voltava principalmente nas férias. Tenho lembranças especiais da minha terra natal. Morei em Barbalha, Missão Velha, Fortaleza, Juazeiro do Norte, Aurora, Recife, Petrolina, Dueré. Não necessariamente nesta ordem. Hoje estou em Gurupi, estado do Tocantins. Eu fui ou sou um nômade ou retirante.

Nestas cidades em que residi aprendi sobre a vida e estudei. Formei-me em medicina na capital cearense. A Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará me deu guarida para que eu aprendesse a cuidar do meu próximo. E a Escola de Saúde Pública do Ceará me capacitou em Saúde da Família.

Em 1985 eu namorava Janilda. Num belo dia fomos até o distrito de Padre Cícero e nos casamos. Sem véu nem grinalda muito menos palitó. Semelhantemente a todo casal, temos as diferenças de conceitos, idéias e pensamentos. Janilda é meio avexada do juízo, porém mais comedida em suas decisões. Daí esta atitude de casarmos sem alarido ou tumulto. Vislumbro que as opiniões dela são melhores, pois sempre têm dado certo. Eu tenho errado tentando acertar. Deixa prá lá se não ela vai ficar muito prevalecida.

Eu e Janilda tivemos três piás, ou guris, ou pivetes, ou meninos. Coêlho Neto é o primogênito. Este é vaidoso, carinhoso e muito amigo. É um sujeito “vida mansa”. Eveline é a do meio. Muito inteligente e comprometida com tudo que faz. É do tipo linha dura. É muito amável. E o fim de rama chama-se Januário Neto. Este é um cara amigo. Parceiro e compreensivo. É um tanto astuto.

Acredito em Deus, mas sou um homem de pouca fé. Mesmo certo da existência de Deus, e com evidências inequívocas de sua presença, eu preciso crer mais. Necessito rezar muito.

Eu sou muito sincero. Confio demais. Gosto muito de meus filhos e adoro a minha esposa. Não a trato com a devida venerabilidade. Preciso melhorar a minha relação com minha companheira e meus descendentes. Tenho os colocado em grandes dificuldades. Espero mudar rápido, e com tempo de sobra para lhes dar atenção. Eu tenho o maior respeito para com o meu próximo. Sonho muito com um mundo mais justo. Tenho a esperança de um dia bem próximo convivermos com administradores públicos que respeitam o que é da comunidade. Sejam justos e perfeitos. Por que o que é do povo é sagrado. Considero-me um ser humano que traz pensamentos e idéias utópicas. Sonho com um planeta em que todos tenham o mínimo necessário para sua vida. Isto retrata uma sinopse do meu eu...

José Arimatéia de Macêdo – Médico

Sítio: www.arimateia.com