NARIZ
 
 
         Como o dedão do pé, o nariz em geral é feio. E mais feio por que o dedão é só feio, mas não tem muita expressão, além disso.
         O meu nariz quando calmo, até não é feio, dá harmonia ou encanto ao rosto. Já as narinas têm personalidade própria e são horríveis. Elas se levantam como asa de borboleta em posição de decolar para um vôo e se estabelecem nessa posição como antenadas a tudo que se passa cá fora, ao seu redor. Elas parecem que têm emoção e inteligência independentes e captam tudo mudando de expressão a cada coisa que ocorre, não consigo dominá-las. Quando estou no carro com meus filhos e sento atrás, que eu não gosto de usar cinto de segurança, e na frente é obrigatório, vejo o meu rosto no retrovisor e noto como fico feia por causa das narinas. É revoltante, mas não há como fazer nada, pois elas têm vontade própria e vão mudando a cada palavra ou assunto que rola entre nós três. Se rio elas ficam horríveis, se fico indignada elas assumem aquela postura de soldados da rainha inglesa, imóveis, prontas para um revide, ridículo, como se estivessem ferozes. O meu nariz é parecido com o do meu irmão Gabriel, que era meu orgulho e meu amor maiores, assim o aceito até com certo orgulho porque tenho algo parecido com ele.
         Há pessoas que tem o nariz lindo e seu rosto ganha beleza e personalidade.
         Muitas funções têm o nariz, além da sua função natural de respirar. Mas não vou entrar neste questionamento que é muito amplo quanto diverso.
         Quero mais é falar do nariz alemão. Os alemães são os que usam o nariz da maneira pior que já vi. Em Dusseldorf, em Hannover, em toda cidade alemã, em plena rua ou em qualquer lugar em que estejam as pessoas, principalmente os homens têm em seu bolso da calça, um enorme lenço todo amarfanhado pelo uso freqüente ou do muito uso. Eles curtem o hábito de assuar estrondosamente toda sua secreção nasal que neles, formam-se continuamente e se acumulam ali no nariz germânico e, ostensiva e orgulhosamente, como se mostrar um cidadão do seu país, param tudo, o corpo todo se empenha naquele ato, seja na rua, no metrô ou ambientes comerciais e sociais ou sofisticados, tiram do bolso o nojo pano e soltam aquele inqualificável assuar barulhento, prolongadamente e repetidas vezes, depois amassam o conteúdo, ainda limpam as narinas e rosto com qualquer resquício que tenha ficado na face e,... Com orgulho da raça caucasiana alemã, embolam aquele “lenço” e respectivo conteúdo de volta ao bolso da calça. Um horror! Um nojo tão nojento e espantoso, pois todo mundo lá, corretamente vestido de preto, elegante e sério continua no seu passo como se fora um hastear de bandeira surrealista heráldica erguida por um dos seus. Todos fazem. Cultura.
         Brasileiro fica besta vendo e ouvindo aquilo numa terra aparentemente tão limpinha e organizada. Tão linda e castelos com gerânios nas janelas.
         Como comentou no Recanto o Michael, listando um monte de coisas características de lá, que vale a pena ler, em que recomenda sua filha de pra lá não ir.
         Fui lá por um período de três meses, em 2005 e muita coisa eu percebi e constatei. Talvez ainda conte alguma coisa de lá.
         No momento quero apenas lembrar quando voltei e cheguei ao Rio, sentada no taxi de volta do Galeão, olhando pela janela do carro, maravilhada com o nosso sol e com o movimento dos corpos dos brasileiros pelas calçadas, os transeuntes bem vestidos e os modestos, todos com movimentos livres de braços e pernas, a expressão da liberdade, lindo os corpos em movimento, soltos. Nos rostos expressões suaves, descontraídas.