Elevação
Ela se expunha a chuvas e caminhadas matinais ao frio sol, dispensava as caronas para livremente perambular impetuosa, jovem e firme pelas ruas. Tinha um quê de algo que vai além, isso pelo modo que encarava a lua.Mas por dentro era tão crua, ainda não aprendera que o sofrer demais é subvida, é desnutrição de espírito e leva a fraqueza da falta de ímpeto por ousar viver. Era reflexo torto dessa deficiência por não se entregar a dor e ao amor.
Sentia-se desbravadora selvagem de uma vida profunda ao receber as gotas de chuva pelo corpo, mas não se permitiria jamais a mínima entrega as gotas de amor ao entardecer.Antes que a noite chegue o vento sul ainda poderia esperançar os olhos embaçados, se esses
permanecessem longe dos noticiários e de alguns sites poéticos.
Ela ficava sentada algumas horas na escadaria do prédio cinza desbotado pela chuva, esse trazia a mancha de lodo para dentro. Era a figura da desordem interna. Tinha uma vista para linha do trem.
Os cambalachos de fugas ao teatro e ao cinema já não lhe eram suficiente, chegou o tempo em que a alma ardente incandesce em fulgor, a exalar pela pele o fervilhão do despertar, é o toque urgente do tempo clamando pelo amor, pela paixão de livre ar; viver.
Em pouco tempo a inquietação entorpecerá, rugirá estrondosamente e vencerá o torpor do medo condescende a infeliz prisão. A dúvida como fibra de algodão se dispersará, ao certo enquanto um mundo desperto pode penetrar.A imitação da vida se desgarrará dessa criatura, as desproteções fictícias se desmontarão ao cenário de uma nova existência, asas em elevação. Nasce borboleta pra vida.