De buquis ondeteibou

Nos Estados Unidos até pobre fala Inglês. Por isso, no mais tardar mês que vem, mudarei para Nova York, a capital do mundo e templo desse maravilhoso idioma. Lá, estarei a salvo dos “estrupos” cometidos contra a língua de Camões. Simplesmente porque lá, nem pobre, nem remediado, muito menos rico, se comunica no tal de português.

Morando em Nova York, sentirei mais prazer em tudo. Digitando meus textos usando o chamado Word, maravilhoso produto que o iluminado Bill Gates nos deu para esse fim, ou passeando pela Quinta Avenida e olhando as vitrines que anunciam 50% OFF. No Brasil, não tem graça. Todos chamam o Word de editor de textos e as lojas, ao realizar suas liquidações anunciam assim: 50% de desconto. Que pobreza!

Ainda bem que em pouco tempo estarei longe desse país invejoso, desse povo invejoso e, principalmente, desse idioma invejoso. Tão invejoso que copia ao pé da letra as regras do meu belo e querido Inglês. Veja as moças que me atendem na central telefônica (que os brasileiros, se tivessem um gosto mais refinado chamariam de call center) quando ligo para a Pizza Hut a fim de encomendar esses deliciosos exemplares da comida rápida norte-americana: Após confirmar meu pedido, essas atendentes de consciência terceiro-mundista, usando esse idioma terceiro-mundista, me dizem o seguinte: Pedido anotado senhor! Em poucos minutos vamos estar enviando sua pizza. Se, para cada vez que elas usassem essa praga brasileira chamada gerundismo, eu ganhasse um copo gigante da gloriosa Coca-Cola para acompanhamento de minha pizza, estaria gordinho, digo, bem nutrido, como a maioria de meus compatriotas estadunidenses.

Deixe estar. New York, New York me espera. Parece que ouço o glorioso Sinatra cantando seu maior sucesso só para mim. Vagando pela capital do mundo, ao invés de cruzar com as latas velhas ressucitadas pelo Itamar Franco e chamadas vulgarmente de Fusca, toparei com reluzentes besourinhos modernos cujo nome, no mais puro Inglês é New Beetle. Por lá, diferente daqui, onde eu freqüentava uma academia, quando quiser me manter em forma, além de caminhar no Central Park, poderei me exercitar em um Fitness Center. Onde é que no Brasil, um lugar desses teria um nome tão pomposo?

As coisas que eu, Abrahan José Lincoln dos Santos, mais amo na vida são, pela ordem: a cidade de Nova York, o país chamado Estados Unidos da América e o meu casal de filhos. Por isso, quando as crianças nasceram, dei a elas nomes fortes, bonitos e tipicamente americanos. Mesmo que a mãe deles (por sinal, moça interessante, mas tendo por nome um sem graça Maria Sebastiana) fosse contra, não pensei duas vezes ao batizar o menino como Michael George Jackson Washington dos Santos da Silva; e a menina de Avril Angelina Lavigne Jolie dos Santos da Silva. Na terra do Ronald McDonald meus pimpolhos sentirão orgulho de seus nomes e não precisarão soletrá-los para ninguém, como sempre têm de fazer por aqui. Porque os ouvidos dos nova-iorquinos, já acostumados ao Inglês, não irão considerar excêntricos os nomes dos meus pequenos americanos.

Enfim, leitores, aproveitem bem, porque este é meu último texto em português. A partir do mês que vem, só escreverei naquela língua que os leitores do The New York Times entendem. Se os leitores solicitarem, posso até enviar obras para este espaço. Porém, não as traduzirei. Caso queiram entender, usem aquele livro que vocês conhecem por dicionário. Para aqueles que ainda não têm um, vai a dica: de buquis chamado dicionário isondetaibou das bibliotecas ou das boas livrarias do ramo.

Wilian Santana Jardim
Enviado por Wilian Santana Jardim em 05/02/2009
Código do texto: T1423999
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