AMO a PALAVRA
 
 
 
 
         Deparei-m hoje com a palavra ESCATOLÓGICA. SEMPRE QUE LI E ENCONTREI ESTE TERMO EU NÃO ME DEI AO TRABALHO DE IR CONSULTAR O Aurélio. Muitas palavras, já dizem de si antes mesmo que se confirme seu significado. Há anos que a leio e construí o meu entendimento pelo teor da frase onde estava contida.
         Sempre entendi que significava algo como um desmoronamento feito escada que, estando você no alto, de repente os degraus de madeira vão se arrebentando, vão se quebrando e você vai se desmoronando junto até atingir o solo. Tal interpretação sempre bastou para dar sentido ao que eu lia.
         Mas hoje estou lendo Fausto Wolff e aí, haja respeito, que é UM “SENHOR ESCRITOR” de maior respeito, e busquei, enfim, o Aurélio, que vou transcrever aqui:
 
ESCATOLÓGICO: Adj. Adjetivo relativo à escatologia
ESCATOLOGIA: (De escato + logia). S.f.1 – Doutrina sobre a consumação do tempo e da história. 2. Tratado sobre os fins últimos do homem.
ESCATOLOGIA: (De escatio + logia) S.f.2 - Tratado acerca dos excrementos.
          É uma senhora palavra... Mas é preciso ler de FAUSTO WOLFF
 
                   “O ACRÓBOTA PEDE DESCULPAS
 
                                         E CAI”
 
         Coisa que me lembra minha adolescência e mocidade em que eu lia M.Delli e outros que tais, livros românticos que tinha sempre uma personagem boazinha e talentosa e que passava a história toda ignorada ou maltratada, injustiçada, etc. e, no final descobria-se que ela é que era de valor e tinha tantos encantos e valores, que o rapaz desejado por todas as outras, apaixonava-se por ela com um amor lindo e, nas últimas páginas realizavam-se todas as coisas boas da vida e da felicidade. E as más personagens recebiam seu “castigo” merecido, para minha felicidade.
         Sempre eu encontrava uma palavra que me fascinava entre os diálogos amorosos ou românticos: “ela ou ele respondia por monossilabos”. Tal expressão eu lia com encantamento “respondia por monosilábos”, com acento agudo no “a”, ou seja, puro charme. Passaram-se vários anos até eu descobrir, por acaso, o que era realmente o seu significado.
 
 
         Estou lendo este livro do Fausto com emoção e respeito. É um livro fino com uma ilustração significativa em cor sépia, que é uma cor marrom queimado muito bonita de se usar em gravura em metal. Cores que mexem com o  sentir sobre seu efeito faz refletir entre as cores sépia e pretas. O tom preto entristece, o sépia emociona. Tudo neste livro é intencional, cada página é pensada e sentida. É da Editora Bertrand Brasil, c/ todos os direitos reservados pela BCD UNIÃO DE EDITORAD S.A. feita por Rachel Braga, utilizando tela Malabarista, de Poty, Napoleon Potyguara Lazzarotto, pertencente ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes. Esta gravura da capa foi feita por Poty em ponta-seca, assinada, 13 x 9,7 cm, tombada sob o número 3875. Foi cedida por João Lazzaroto.
Ponta-seca, para o leitor que desconhece a gravura em metal, posso dar uma explicação, pois sou gravadora e fiz muita gravura na Escola de Belas Artes, da UFRJ e também no MAM com Rossini Perez. Trata-se de tomar uma placa de metal, cobre ou latão, enfim uma superfície metálica, polida até virar um espelho e, com um estilete especial ou um buril, desenhar nesta superfície, arranhando-a e ir compondo as formas que o artista criou para se expressar. É lindo. Lindíssima expressão de arte. Poty é maravilhoso. Eu mesma fiz muitas gravuras e cheguei a expor algumas vezes. As minhas gravuras também são muito bonitas. Adoro.
 
Outra coisa linda o livro é dedicado para sua irmã Sara Wolffenbuttel Veras e em memória dos seus irmãos Osvino e Urbano Wolffnbuttel. Esta é a primeira página, tem um peso emocionante. Para mim.
No dia em que o Fausto morreu tive o maior choque, pois pensei que ele nunca morreria tão maravilhoso que é, e que eu ainda iria ler todos os seus livros. E ele prega esta surpresa aos seus leitores, ausentando-se da Literatura Brasileira, como “uma peregrina flor”. Abalada fui para o Cemitério São João Batista, mas ele ainda não estava lá, e o responsável local me informou que a Capela 1 estava reservada para ele, mas não sabiam a que horas chegaria o seu corpo.
 
Era fim de tarde. O sol ainda iluminava a cidade do Rio de Janeiro. Da porta fiquei vendo o entardecer e esperando. Dali se via o Cristo Redentor e o sol por trás. Triste demais. E o sol foi se pondo, tudo em cores laranja e o escuro das montanhas. Ali fiquei até o escuro total. Em casa desenhei esta visão que foi a última que tive do Fausto Wolff, e quem nunca vi pessoalmente, exceto na imprensa e na TV. Eu sempre o amei mesmo sem te-lo visto. Desde que li seu livro De A a Z”.                 O porteiro perguntou-me se eu queria mandar fazer uma coroa de flores pra ele. Acabei aceitando e pedi que pusesse rosas e uma faixa como dizeres, que ele mandou fazer e depois trouxeram para eu ver.
Lindo: “FAUSTO VOCÊ FARÁ MUITA FALTA À LITERATURA, UMA HOMENAGEM DO POVO BRASILEIRO”. Uma faixa branca com letras douradas. E o moço me chamou para ver onde ele ia colocar e fomos. Na Capela 1, o caixão iria ficar perpendicular a uma parede interna da capela, da frente da fachada, de modo que sua cabeça ficaria em direção ao Cristo Redentor. E ele disse, olha, a coroa vai ficar ao lado direito de sua cabeça; e ali a pendurou, dizendo, olhe como ficou bonito! É verdade, ficara bonito e eu pensei, dolorosamente, assim, quando ele chegar vai encontrar este ambiente já esperando por ele, e o lugar não ficaria tão sozinho, e os seus parentes e amigos se sentirão um pouquinho melhor.
 
Tomei um táxi e fui pra casa, na maior tristeza.
Antes de ir deitar, já umas 23 horas, resolvi telefonar para o São João Batista e saber notícias, e o responsável informou que já tinha chegado e se eu queria falar com um dos familiares, falei que sim, que chamasse um filho ou um amigo... Esperei, e quem me atende é Sara sua irmã. Choramos as duas e contei da coroa que eu mandara colocar em nome do povo brasileiro. Ela chorou mais e disse “mas está muito bonita, obrigada, obrigada, aqui é a irmã dele, Sara, me pediu meu nome e ela falou do seu irmão tão belamente, dos seus valores e da sua coerência e agradeceu, disse que lá estavam todos os amigos dele e a filha e todos se admiravam com aquela coroa em homenagem a ele, “quem foi?’, “quem fez”, que lindo, etc., foi confortador ouvir isto.
 
         E este livro ele dedica a ela... Sara.
 
         EU GOSTARIA, UM DIA, DE DAR ESTE DESENHO QUE FIZ para ela, Sara,   É BEM OS ÚLTIMOS MOMENTOS DO Rio do Fausto Wolff, na minha concepção.
 
         Acrescento que, antes deste livro é sugerido pelo próprio Fausto ler “A MÃO ESQUERDA”.
 
 
         A PALAVRA é tão prodigiosa que nos transporta que emociona como se ouvíssemos e vivêssimos cada palavra escrita e lida.