O Homem de Lata

Das histórias que minha avó contava de sua terra, a que me fazia viajar na imaginação e no tempo, era a de Tião Pedro, O Homem de Lata. Era só vovó sentar-se na sua cadeira pra descansar, que eu me sentava nos teus pés e pedia:

_Fala do Homem de Lata, Vovozinha?

Mas na verdade eu já tinha decorado toda história.

Tião Pedro, como era conhecido pra bandas de lá, morava num sítio perto da fazenda da vovó, no interior de Minas Gerais.

Por obra do destino, nasceu com um desequilíbrio mental visível e desde cedo já trazia os seus pais de canto chorado. -Não se agüentava Tião Pedro! Que sina para os pais dele! Vovó dizia. O rebento, só aprontava. E quando moleque ainda, já colecionava traquinagem. .E com isso, nem patrão e nem empregado podia com a lida. Tudo girava em torno dele. E como mudar o rumo de tudo? Nem pensar!... Não admitiam que o filho macho pudesse ter alguma deficiência (Que felizmente hoje tratamos como pessoas especiais e as incluímos no convívio social). Na época, ter um filho com alguma diferença era vergonha. Muitos pais escondiam seus filhos deficientes, ou tentavam enganar as pessoas dizendo desculpas sobre os mesmos. E com o Homem de Lata não foi diferente. Mas o triste foi que esta personagem ficou sem seus pais cedo. E os empregados com medo se debandaram do sítio, deixando-o só.

Desde menino ele adorava brincar com latas, e não tardou a construir uma roupa de lata e um guarda chuva.

Assim, tornou-se atração do lugarejo. A chegada do Homem de Lata causava confusão em qualquer ambiente. Colocava uma forma de vestuário pendurado por uma corda no pescoço, feito por umas latas de querosene cortadas e unidas por arrebite. Esta roupa de lata cobria do peito ao joelho. De forma que ao andar a roupa balançava em torno do corpo. E pra completar, o guarda-chuva de lata que nunca fechava.

Minha mãe, minhas tias e outras crianças se encantavam com a interessante figura.

Outra característica era o trabalho só nos domingos. Tocava acordeão nos dias de semana. Alegrava os dias de labuta, na colheita do café, da fazenda de vovó. E no dia de descanso capinava, plantava no seu sítio.

Era muito centrado, não gostava nenhum pouco de visitas, inoportunas pra ele, é claro. Afastava todas que se aproximassem do sítio. Prato cheio pra criançada poder provocar. E com certeza minha mãe fazia parte dessa turma.

Contava vovó, que um dia ele matou um bezerro e pendurou pelo lado de fora, na porta da cozinha. E quando queria comer, cortava um pedaço e cozinhava. E logo, logo, arrumou briga com urubus.

Infelizmente num certo dia O Homem de Lata fez sua ultima peraltice, moeu pimenta do reino e usou como rapé. Cheirou o pó de pimenta muito tempo e foi encontrado morto depois de alguns dias.

TeteCrispim

Tete Crispim
Enviado por Tete Crispim em 05/02/2009
Reeditado em 04/10/2010
Código do texto: T1422663
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