A PAIXÃO SEGUNDO FRANCESCO ALBERONI

Como saber? Como conhecer? Quando sinto o chão fugindo dos pés pela falta de “esquemas de pensamento”, recorro à filosofia, afinal, os filósofos foram o marco inicial de uma explicação racional para as verdades da vida. Assim, recorro ao professor de filosofia Reimberto Schmitz, para me ajudar a conhecer o pensamento do sociólogo italiano Francesco Alberoni, que estabelece algumas diferenças entre o amor e a paixão. Paixão, que é algo maravilhoso, mas quanto mais conhecemos a estrutura desse sentimento e das emoções que lhes são relacionadas, melhor poderemos vivê-la, tanto na adolescência quanto em outros momentos da vida, é o que afirma os que a conhecem.

O pensamento de Alberoni sobre a paixão é retratado como uma revelação maravilhosa, uma fulguração que transforma toda nossa vida. É o advento do extraordinário que nos retira da tranquilidade da vida cotidiana, na qual os laços afetivos se encontram já consolidados, e nos atira num redemoinho que transfigura a qualidade da vida e da experiência, levando-nos a alterar radical e profundamente as relações com os outros e a postura diante do mundo.

É dito também, que não nos apaixonamos em qualquer momento da vida. É preciso estarmos disponiveis, predispostos a nos apaixonar; romper com o passado e a colocar em questão a nossa vida, buscando outras respostas. A paixão é, ainda, exclusivista. Seu objetivo é um só e não pode ser substituído. A paixão exige total dedicação. No entanto, pode ser unilateral, isto é: pode não ser correspondida e cria, também, o tempo e o espaço míticos. Determinadas datas, determinados lugares são considerados “sagrados” pelo par enamorado. São “seus”, estão ligados a origem da paixão e são comemorados seguidamente tendo a função de reativar os sentimentos.

A paixão se alimenta da tensão criada pela diferença que se deseja igualdade . Ainda Alberoni. Desejamos a diferença do outro porque é ela que nos atrai, por abrir novos horizontes de vida. Ao mesmo tempo, porém tentamos limitar essa diferença, para nos sentirmos seguros. O ser amado é sempre força vital livre, imprevisível e polimorfo. E o próprio fato de ser imprevisível que nos faz sentir ciúmes em função do medo da perda. Aquele que for o mais inseguro do casal começa a estabelecer para o outro, limites cada vez mais estreitos que funcionam como provas de amor, a exigir renúncias numerosas a fim de tornar o parceiro um ser dócil, inócuo, domesticado.

E o fim da paixão, como é sentida? Assim: O outro aceita, renuncia a amizades, programas, viagens, às vezes até a profissão. Muda o comportamento e a aparência pra manter o amado feliz, transforma-se na imagem desejada por ele, perde a individualidade, a liberdade de ser e escolher. O parceiro, por sua vez, se vê seguro, mas diante de uma pessoa que não mais o interessa, que não aponta mais para novas possibilidades de vida, que não tem mais força vital pela qual se apaixonou.

Este é o fim da paixão e o começo da desilusão e do rancor, isto é, o momento em que a paixão alegre degenera em paixão triste.

ps:já afirmei acima, mas enfatizo mais uma vez, que são meus "parceiros" neste texto, o prof. Schmitz e o sociólogo Francesco Alberoni.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 04/02/2009
Reeditado em 04/02/2009
Código do texto: T1421167
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