O Despertar do Devorador. Cap. 1
Capítulo 1
Cena 1 : O Alvorecer.
Scoth acordava em seu apartamento, no 13º andar de uma velha construção, no subúrbio da cidade. Sua cama encharcada de suor, totalmente bagunçada, e ele, ofegante. A madrugada foi difícil hoje.
Levantando-se, ainda de sunga, descabelado, e semi sonolento, foi a cozinha. Precisava de um copo d'água pra se recuperar. Estava estranhamente cansado e confuso. Tivera um sonho muito estranho, uma batalha, onde ele enfrentava aberrações... não, não era exatamente ele, porém ele via pelos olhos do guerreiro. Sem dúvida fora uma batalha difícil, e ele perdeu. No último momento quando via que estava prestes a ser morto, ele usou suas últimas forças e saiu dali, como num deslocamento de ar muito forte ele foi puxado pra longe, e então só viu muita luz... e uma voz, uma voz forte, autoritária, porém serena e humilde, dizia algo, uma mensagem, que Scoth foi lembrando aos poucos.
"Venho pedir tua ajuda, não se assuste ou se preocupe, não vim trazer nenhum mal, pelo contrário, venho lhe convocar a se unir a mim na batalha da Cidade de prata, a Cidade dos Anjos contra um poderoso demônio e seus vassalos que estão a solta próximo a sua cidade...
Devo impedir um grande sacrifício, que deverá acontecer na próxima lua cheia, e para isso peço vossa ajuda, para lutar contra essas forças infernais. Se for de seu interesse, defender seus familiares, amigos, e os demais humanos, me procure pela cidade, que eu lhe encontrarei"
Ao relembrar a mensagem Scoth fica confuso, não entendia como um sonho poderia ser assim. E ainda mais aquele, que ficava martelando em sua cabeça o tempo todo.
O rapaz decide deixar pra lá, resolveu fritar uns baccons e ovos, comer umas torradas e tomar um café bem forte pra tirar essas idéias da mente e sair mais uma vez, pra procurar um emprego.
Já era sua 4ª semana sem trabalhar, sabia que se não começasse logo em um outro emprego, seria expulso do apartamento que alugava. Porém, não adiantava ficar se preocupando se não podia fazer muita coisa. Na verdade, Scoth sempre foi estranho, sempre viu tudo de um ângulo diferente.
Aos 13 anos teve um estranho sonho, viu-se cercado de luz, num lugar diferente, longe da fazendo dos seus pais. Nos montes a leste, no vale, que ele via de cima. Parecia que estava voando a uns 20, 30 metros, não sabia. Essa luz que o cercava o tornava leve, e suas radiações formavam asas brilhantes que o sustentavam no ar. Scoth então viu uma grande fera se aproximando. Um monstro reptiliano, serpentino, que voava em sua direção. Era grotesco ver o focinho daquele animal negro, que babava uma bili viscosa, com dentes afiados e esverdeados; escamas negras cobriam o corpo da criatura, e ela mesmo sem asas, voava em sua direção.
Scoth porém não temeu a besta e invocando forças desconhecidas para uma criança de 13 anos, conjurou uma espada flamígera e duelou com a fera durante toda a noite. No final, o garoto conseguiu cravar o sabre na cabeça do monstro, e ele cai, inerte, nos vales. Scoth acorda em sua cama depois disso, exausto, e com o corpo, inexplicavelmente ferido por arranhões e hematomas, mas nada que fosse grave.
Após esse dia, Scoth sempre se via lutando contra bestas estranhas, seres horríveis. Ás vezes, salvava pessoas, ás vezes lutava sozinho, em becos, telhados, descampados, mas sempre lutava; e sempre vencia.
Hoje, com 21 anos, Scoth já havia saído da fazenda de seus pais, estava seguindo seu caminho na pequena cidade de Finglerton, na Escócia. Havia passado para a faculdade de Engenharia a 3 meses e já estava cursando o 1º período, porém muitas vezes perdia aulas da manhã, pelas noites de sono mal dormidas, pelos sonhos estranhos, pelos combates que travava de madrugada.
Durante sua caminhada pelo centro da cidadezinha, parou numa velha taberna pra almoçar antes da aula. Pediu um almoço da casa e sentou-se perto da janela pra esperar. A sua frente estava a bela praça de Flingerton, pequena, porém bonita. Era o centro exato da cidade e em seu núcleo havia um chafariz, com a estatueta de um anjo que despejava água no lago do chafariz, a sua volta um piso de pedra, com bancos de madeira, voltados a fonte d'água central, formavam um belo local para namorados e turistas. Porém, naquela tarde, não seria esse exatamente o motivo que chamaria a atenção das pessoas aquele local.
Da fonte, começava aos poucos, a exalar uma névoa, branca e espessa, que ia aos poucos tomando o piso do local. Lentamente as brumas iam engolfando as pessoas sem que elas percebessem. Porém, Scoth de dentro da taberna percebeu e pedindo a atendente que reservasse seu pedido, foi à praça averiguar.
Chegando lá, Scoth vê o local tomado pela névoa. O tempo parecia que estava parando ali. Ás pessoas pareciam mais lentas, os carros estavam quase parando; até mesmo as aves que passavam voando ali, estavam estranhamente fora de tempo. No meio das pessoas que passavam como em câmera lenta por Scoth, ele vê um vulto, ao focar sua visão ele percebe que no meio de todos há um homem alto, estranhamente vestido com mantos brancos, e encapuzado. Em seu tronco via-se um cinturão, de onde pendiam facas de arremesso, uma espada medieval, e outros apetrechos. Em suas mãos luvas de couro o protegiam e não permitiam ver sua pele e por fim, ele usava uma grossa bota de couro. Com certeza era alguém que seria notado se estivesse no meio de uma população durante a hora do rush; porém todos passavam por ele, e nem sequer nele esbarravam.
-Que bom que atenderas meu chamado!- Disse em tom grave e imponente. Era a mesma voz que Scoth lembrava ter ouvido em seu sonho, na madrugada anterior- Sou Hazael, e vim pedir seu auxílio. existe um demônio solto nesta região e ameaça esta cidade. Pheliodox; o demônio que fui enviado para caçar a 1.000 anos. Porém ele sempre foi esperto e ardiloso, além de poderoso. Nunca consegui minar suas forças e levá-lo a julgamento celeste. Porém desta vez ele conseguiu sua maior façanha. Encontrou uma brecha no Tratado espiritual entre o Paraíso e o Inferno, e trouxe uma horda de demônios para serví-lo, possuindo corpo de mortais.
Venho pedir sua ajuda Scoth Ben Summer, para derrotar esse demônio que assola seu mundo. E que pode, na próxima lua cheia, destruir sua cidade por inteiro.
-Peraí, do que está falando?- Retrucou Scoth.- Primeiro, sonhos estranhos toda a noite, depois vem dizer que atendi seu chamado
e agora quer que eu lute contra um demônio, que aliás, tem mil anos, e você mesmo não derrotou! Olha, quem é você, de onde você saiu? Isso é algum tipo de piada né? Aquelas pegadinhas da TV, que depois a gente sai rindo. E essa névoa, tudo cenográfico.- Disse ele olhando ao redor, balançando a cabeça, negando o que via.
Scoth não acreditava no que estava a acontecer, era simplesmente estranho demais para sua razão, na verdade, para a razão de qualquer um. Se tudo estivesse certo, ele estaria diante de um arcanjo, e foi recrutado para uma guerra secular de 1.000 anos para proteger sua cidade da destruição! Seria muita loucura pra apenas um dia de noite mal dormida.
-Você sempre teve os sonhos não é?- Comentou o homem.
- O quê? - Scoth levantou a cabeça, fitando Hazael surpreso.
- Você é um nephelin Scoth, você possui a alma de um filho de um anjo. Você é poderoso e combate as forças infernais sempre que pode mas pela sua mente não saber da existência desse mundo a parte você só o faz durante o sono, no qual sua mente racional se desliga, deixando seu verdadeiro ser vagar para cumprir sua missão.
- Do que você está falando, quem é você?
- Venha comigo e aceite sua responsabilidade, o resto eu lhe explico depois.
- Como? Espere! - Gritou Scoth ao ver Hazael dar as costas pro rapaz e ir andando em direção ao chafariz novamente. Correndo atrás do anjo, esbarrando nas pessoas, ele vai aos poucos vendo a névoa se dissipar, e tudo voltar ao normal. Até que ele pára. Por um segundo pensa se o que aconteceu foi real. Ele ouve uma pequena agitação atrás de si, mas não tem tempo pra olhar. Sentindo uma forte pancada na nuca, ele desmaia.