HOMENAGEM PRÉVIA

Publiquei dia desses “Morro de São Paulo”, em homenagem a alguém querido que recente e estupidamente mudou-se pr’o andar de cima. A Marília gostou. Gostou tanto que me pediu uma crônica também quando ela for bater na porta do Pedrão. Senti-me profundamente honrada, todavia, há dois probleminhas aí. Um de ordem prática, outro de ordem matemática.

Primeiro, na verdade segundo, só vindo primeiro, que eu sempre fui “do contra”, Marília é mais nova, mais saudável, mais responsável, menos maluca... logo, matematicamente, quem provavelmente vai ter que escrever a tal crônica póstuma é ela, quando eu estiver a bater às portas (provavelmente) do “concorrente”, elevador abaixo.

Segundo, e isso a Marília não sabe, muito embora eu não tenha chegado ao ponto evolutivo de parar de fumar, beber, começar a andar de bicicleta, votar e fazer três refeições por dia, mudei, ando dirigindo mais devagar e vivendo mais depressa, se quiser dizer algo para ou escrever algo sobre alguém, não vou esperar neguinho bater as botas não! Farei hoje! Se possível, ontem!

Radicalizei, concordo com a propaganda do concorrente do Omo (o branco total radiante), de uns kazilhões de anos atrás, não tem essa de branco claro e branco escuro, ou é branco, ou ‘tá sujo! Concordo, “virtus in mesus” (latim enferrujadíssimo, desculpa aí!), mas tem coisa que não tem “mesus”, não tem meio feliz, meio honesto, meio vivo, meio amando... tem coisa que ou é, ou não é! Branco ou preto, sem tons de cinza. Meio feliz é triste conformado, meio honesto é safado com crise de consciência, meio vivo é moribundo e meio amando é piada. Piada a qual, a propósito, meio engraçada, acontece com gente que ‘tá meio amando, meio feliz, jura que isso é meio honesto e, ao ser meio infiel, sente-se meio vivo.... Meio ridículo, não?

Mas não a Marília... ela gosta de cinema, tem um senso crítico-romântico apuradíssimo, mora lá na PQP (e gosta!) e conversa com um sapo, ou seja, uma pessoa normalíssima! Superlativamente normal! Afinal, convenhamos, quem não conversa com sapos? Só eu! Que converso comigo mesma, mas eu não entro na conta, caso contrário teriam que contar em dobro ( a falante e a ouvinte!), afinal nós (eu e meu ego) somos MEIO (o que equivaleria a um inteiro, né?) egocêntricos e carentes de atenção...

E o sapo dela lê jornal e dá entrevistas! Cadê meus homenzinhos verdes????????????????? Depois, eu que sou doida... A nêga acredita que viver no Brasil é viável e eu que sou a insana! Assim fica difícil...

Marília não gosta dos meus palavrões! E nem das minhas palavrinhas... Mas gosta das minhas crônicas, porque, no fundo, a Marília sou eu, com travas-na-língua (ou seja, educação), ou eu sou a Marília, de saco-cheio. Mas Marília ainda não está no climatério, issso tem que ser respeitado! Quando ela chegar aqui, digo, lá, quero ver com que palavras ela vai dizer “puta-que-pariu”... Marília nem sabe que eu casei, e que mi maridito lindo, apesar de ser a cara do JohnTravolta (o que, na boa, deveria ser suficiente), tem horas que é um pé-no-saco... um adorável pé-no-saco, com ênfase no adorável às vezes, na outra parte a maior parte do tempo... mas Marília sabe lidar essas coisas melhor do que eu, ela vai passear. (Eu, antes, mandava passear e ficava em casa mordendo o cotovelo.., apendi com a Marília... quem vai passear sou eu, você que morda os cotovelos...)...

Marília também aprendeu nesses dias, assim como eu, que o amanhã é incerto e que, dependendo da pressa, “pode não dar tempo”, então, sem pressa, mas sem preguiça, melhor “mexer o doce”!

A irmã da Marília, por outro lado (o meu!), pelo que ouvi dizer, também vive em Inglês, e, já que a língua é curta, também dá respostas curtas a perguntas estapafúrdias... tal qual a mim, só muda que as minhas, além de curtas, são grossas. Bom, nem acho que são de fato grossas, mas, de novo, eu não conto... todavia, insisto, neguinho/a me perguntando se a crise mundial está me afetando (dããã!!), se eu ‘tô puta quando alguém me ferra, triste quando alguém que eu amo morre, ou a ponto de matar um quando interrompida no meio do meu orgasmo pr’á perguntar se eu ‘tô gostando, prá mim, é tudo a mesma coisa! E merece a mesma resposta: “Não”, pr’á ser curta, e uma meia dúzia de palavrões e palavrinhas pr’á ser franca... já que, nos dias de hoje, franqueza e grosseria, parece, viraram conceitos limítrofes..., então, perdido por perdido, vai palavrão mesmo, se eu vou terque roer o osso, pelo menos vou saborear a carne, embora a Marília não goste, mas desopila o fígado que é uma beleza...

Na boa, Marília, quinta-feira, você morta de cansaço contando as horas prá sábado chegar, neguinho te liga às três da manhã, você atende com o coração na mão tentando imaginar quem morreu, e aquela voz de Bonnie Tyler, e ouve: “Você ‘tava dormindo? Te acordei? Só queria dizer “Boa noite”...”, o quê, no fundo da sinceridade, você tem vontade de responder? Tem horas em que a vida “puxa a faca”... Mas a Marília está certa, o que a gente faz com a faca, se dá a facada ou fatia o limão prá caipirinha e chama os amigos, depende da gente... um dia eu aprendo, ainda tenho tempo, já que medo de morrer não tenho, mas pressa em fazê-lo tampouco! todavia, pelo sim, pelo não e pelo talvez, que tal adiantar pra esta sexta a festa da sexta que vem????

Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 04/02/2009
Reeditado em 04/02/2009
Código do texto: T1420824