A TEMÍVEL BOLA DE NEVE AMERICANA
Todos os dias às quatro da manhã lá estava ele no ponto de ônibus com o olhar duro no horizonte, tentando esquecer a condição em que estava. Todos os dias lá estava ele, sem conseguir entender.
Era difícil entender porque as empresas imobliárias nos EUA haviam especulado alem da conta e o dinheiro havia sumido do mercado gerando uma bola de neve que foi crescendo sem parar até se transformar numa crise gigantesca.
Mas tambem não dava para entender, não havia como entender: mal havia completado o ensino fundamental com um sacrifício enorme. Suas mãos suando perante a professora de geografia lhe cobrando lições sobre relêvo, clima, hidrografia... lições que a muito custo lhe entraram na cabeça porque o estômago doía. Como entender o motivo que levava a bola de neve americana a lhe fazer perder o emprego?
Só sabia que era madrugada e era preciso arrumar um outro emprego logo porque a mulher e os filhos precisavam de comer.
Tambem não entendia políticos falarem em crise e continuarem a gastar dinheiro com obras desnecessárias, festas, viagens e contratando parentes e amigos para ocuparem cargos de altos salários sem concurso público. Mundo estranho esse.
Só sabe que é madrugada e o ônibus já vem chegando. Seu pai dizia que Deus ajuda a quem cedo madruga mas o pai talvez em toda sua vida não tivesse enfrentado nenhuma bola de neve americana.
De qualquer forma o ônibus já vem chegando. O coração aperta a tensão aumenta, sabe que terá um longo dia pela frente e não vai ser fácil.