TEM RAZÃO HUMBERTO ECO?
Observando a velocidade com que as coisas continuam a acontecer neste século XXI, lembrei do escritor italiano Humberto Eco, mas precisamente do que li dele quando o século XX estava se indo. Disse o autor de “Baudolino” ( Baudolino que escrevia assim: “Eu Baudolino de Galiaudo dos Aularis com huma cabeça que parece hum lião alleluja seijam dadas Graças ao senhor que me perdoe) e autor de “O Nome da Rosa”... Ah! Mas isto é outra história, vamos ao que interessa e o que interessa é o que o senhor Eco falou a respeito do século XX, que o taxou como o século do enfarte, admirando-se como espaço, tempo, informação, crime, castigo, arrependimento, absolvição, indignação, esquecimento, descoberta, crítica, nascimento, longa vida, morte... tudo acontecia em altíssima velocidade. A um rumo do stress.
Embora as coisas continuem a acontecer tal qual o descrito e o ar que respiramos seja o da neurastenia, vamos dar uma paradinha e acompanhar o raciocínio do escritor no tocante ao século que se foi, e que ele o considerou menos hipócrita que os outros.
O pensamento de Humberto Eco é de que podemos julgar um século pela distância existente entre o seu sistema de valores e sua prática cotidiana. Sendo menos hipócrita que os séculos anteriores, o século XX enunciou regras de convivência, que certamente as violou, mas moveu processos públicos contra essas violações, o que inibe e evita abusos de poder de toda ordem.
Exemplificando, diz o escritor: “ Hoje posso andar na rua sem me fazer matar por alguém que queira manter sua trajetória na mesma calçada que a minha e sei que meus filhos não receberão cacetadas do filho de um duque como meio de aprendizagem do poder . Indivíduos prepotentes tentam ainda hoje expulsar uma mulher negra do ônibus, mas a opinião pública os condena”.
Para o bem ou para o mal, afirma, que o século XX terá sido o das massas. Os direitos foram reconhecidos: um cidadão que não possua terra ou não tenha prerrogativa eclesiástica possa ter o direito à palavra, à contestação, ao voto, exercer um cargo público.
E tem mais: “Experimente tratar a murros seu encanador que exige pagamento e compreenderá que alguma coisa mudou. As conquistas morais e políticas, graças às quais não se pode engravidar impunemente uma camponesa só porque se é dono de terras ( se pagam hoje pelo sistema de estrelato: aquela que, em outros tempos, teria sido uma camponesa indefesa é hoje assediada com a promessa de aparecer nua na capa de uma revista famosa”)
E, agora? AGORA, só consultando os “universitários”. Digam ai minhas queridas e queridos companheiras e companheiros de trabalho, sentiram essas mudanças e o mister Eco, teria razão em sua avaliação?