Ela

Virou mania. Não sei como conter.

Digo, escrevo e repito: não sei como tudo isto aconteceu. Não foi por passe de mágica – ou foi? Foi tudo de repente, tão de repente que quando vi não tinha mais saída, estava laçado, preso e amarrado.

Tantas situações o homem passa! Algumas previsíveis, outras entram pela sua vida adentro, sem pedir licença, sem pedir nada...

São paixões avassaladoras. A literatura e a Vida conhecem casos repetidos. Eles não são imaginários. Fazem parte do cotidiano. E não temos armas para lutar contra elas.

Eu explico. Aconteceu há mais de ano, quando e bela jovem entrou na vida do calmo homem que conheço, sem bater na porta. Simplesmente, ela colocou a porta abaixo. É comum colocarmos outro na história, quando somos nós mesmos as vítimas. Sigo a tradição, que gosto e deve ser respeitada. Afinal, ela vem dos tempos de Shakespeare, que deve ter sido o rei das paixões bem sucedidas e das frustradas. Como escreveu! Tem crítico que acha – neste mundo todo mundo acha alguma coisa – que ele não foi o autor de todas as obras. Tinha alunos, que escreviam as peças. Fico na minha ignorância e não me manifesto.

O que estou me referindo é tão grande, intenso e forte, que fugi rápido do assunto, parece que não quero continuar.

Continuo sim. Ela entrou nos meus poros, sua imagem ficou gravada nos meus neurônios, e não tenho como me libertar. Os olhos expressivos, a face perfeita, os cabelos dourados, a bruxa, a feiticeira que chegou, se instalou e ficou.

Queria casar, queria filhos, queria uma união duradoura, segundo ela, até o fim dos tempos. Coisa de bruxa mesmo, este até o fim dos tempos. Como não foi possível, desistiu. Desistiu? Nada, sempre que tem uma oportunidade fala, conversa, conta casos... A única coisa que não tem bonita, charmosa, linda, é a voz. Talvez ainda infantil, de menina-moça, não pegou sonoridade. Mas tenho observado que vem melhorando cada vez mais. Ela mudou muito. Ficou mais bonita, não sei como. Elegante. Inteligente já era; só fez aumentar. Não tenho saída. Será que quero isso?

A bruxinha está mais madura. Ficou mais perigosa...

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 02/02/2009
Código do texto: T1418627
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