Desejo de Amar e Morrer

Cada vez mais ela ia se apoderando de seu corpo, logo quando surgiram pequenos seios, sucumbindo à trágica cantiga de amor, uma mulher séria e de mero valor. Queria apenas amar e morrer, como numa trágica cena shakesperiana, exarcebar os desejos de seu corpo e daí sim, adormecer.

Saíra de casa com destino incerto, uma mala com alguns livros, pouco dinheiro no bolso e a roupa do corpo, porém tinha coragem, isso sim, possuíra de sobra. Pra que viver uma vida inventada, incerta e trágica? Infância, adolescência, casamento, filhos. Toda essa rotina fútil, esse destino que lhe programavam. Não queria isso pra si, queria mais, queria ser possuída por vários homens, amar e ser amada, arriscar. Algumas lágrimas lhe escorreram do rosto, uma moça de rebeldia indomável, de muitas certezas em um caminho incerto. Andou por aí, alguns dias saboreou ser só, solitária, triste, amada. Pegou carona com homens, transou com alguns, não dormiu e nem comeu. Vagou pelos percalços do mundo, pensando e remoendo sonhos, infinitos, incrédulos, fugazes. Ingeriu bebidas fortes, tragou cigarros, queria apenas esquecer a vida, toda aquela monótona responsabilidade de menina, queria agora ser mulher. Banhava-se em hotéis, sempre com um aroma de menina mulher, charmosa sobre um olhar azul, cabelos negros escorrendo-lhe os ombros, meiga e misteriosa.

Foi sobre os verdes do jardim, quando arrancou uma pétala de rosa e apertou até escorrer um líquido cor de sangue por entre as mãos, enquanto lhe possuíam o ventre, que deitou, fechou os olhos e morreu. Rápida e intensa, solitária. Morreu como devia, como queria. Amou e foi amada, viveu e morreu. Morrer não dói.