De novo, ainda bem!
Freud não explica, mas a última coisa que almejo é ser entendida. Até porque se isso acontecesse haveria assombros de horror, assim sendo, nem eu procuro muito entender essa alma indiferente que assusta-se perante ao espelho, lido nos folhetins pérfidos das manhãs literárias, sem a abordagem sutil a que deveria referenciar. Pinceladas aqui e ali de bom humor e sarcasmo, doçura e agrura, calor e frio, irritabilidade e irreverência, aprisionados em uma mente avessa a tudo isso que se passa, sempre em busca de algo novo e envolvente, instigante e diferente para deliciar os passos inevitáveis do dia-a-dia. Inevitáveis pois o dia amanhece e a cama expulsa o corpo lânguido para enfrentar o novo e previsível dia, onde tudo será como dantes. Juntam-se profissional, mãe, menina, mulher, espremidas num rótulo de vários itens, a procura de absorver o mundo e acalentar a todos. Na primeira empreitada do dia, o beijo doce do filho ao despedir-se em direção ao colégio, olhos amendoados cheios de esperança e muito amados. No caminho do trabalho, muitos rostos cansados muito antes do dia começar. A eterna busca do ser humano por dias melhores. Abro a porta do escritório, eu aqui de novo, sem tempo para ver a vida passar. E ela passa. Final do dia e ele está lá, com aquele marzão de olhos verdes e iluminados, lindos, me esperando, na melhor hora do dia, onde vamos pro nosso ninho aliviar juntos nossos corpos cansados e tão simetricamente moldados. O aroma do café dele, o melhor do mundo, vem me aconchegar. Antes de dormir, pego o telefone, preciso ligar pra eles e saber como passaram o dia, sentir o humor das suas vozes, ainda não cortei o cordão umbilical, e nem pretendo. Boa noite, meu filho, durma com os anjos, amanhã é um novo dia.